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2º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero - CNPq

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<strong>2º</strong> PRÊMIO CONSTRUINDO A IGUALDADE DE GÊNERO 5<br />

então quando eu não fico com as crianças é ele quem fica. Então a gente consegue<br />

administrar esse lado <strong>de</strong> casa por causa disso...” (Sonia – técnica <strong>de</strong> enfermagem)<br />

O investimento por parte das trabalhadoras <strong>de</strong> enfermagem no sentido <strong>de</strong> negociar seus dias<br />

<strong>de</strong> trabalho também está relacionado à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partilhar com a família dos momentos<br />

<strong>de</strong> festas e comemorações. Isto po<strong>de</strong> ser evi<strong>de</strong>nciado na dissertação <strong>de</strong> Soares ( 005), quando<br />

esta menciona o caso das trabalhadoras <strong>de</strong> enfermagem que realizam trocas e/ou pagamentos<br />

<strong>de</strong> plantão como garantia <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>rão estar presentes em outros compromissos como, por<br />

exemplo, datas consi<strong>de</strong>radas especiais como Natal e Ano Novo. De acordo com Soares ( 005),<br />

nestas datas ocorre um aumento monetário dos plantões vinculado ao valor simbólico <strong>de</strong>stas<br />

festivida<strong>de</strong>s, já que nestes dias muitas trabalhadoras prezam estar com suas famílias, pagando<br />

mais caro do que o usual para outros fazerem o seu plantão.<br />

Um outro aspecto da sincronização se refere à escolha do plantão noturno pelas profissionais<br />

da enfermagem. Sobre este aspecto, surge com freqüência no discurso das entrevistadas o<br />

fato <strong>de</strong> avaliarem sua experiência em trabalhar à noite como representando uma espécie <strong>de</strong><br />

“praticida<strong>de</strong>”, <strong>de</strong> forma que durante o dia po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sempenhar suas ativida<strong>de</strong>s cotidianas e à<br />

noite, período que em geral a socieda<strong>de</strong> adormece, elas realizam seu trabalho profissional. Tal<br />

fato po<strong>de</strong> ser observado no relato da técnica quando diz:<br />

“...Para mim a noite é feita para dormir. Mas para mim ela é prática. No meu contexto<br />

hoje, trabalhar à noite para mim, é praticida<strong>de</strong>. Eu posso fazer o que eu gosto e ter tempo<br />

<strong>de</strong>pois para fazer outras coisas...” (Julia – Técnica <strong>de</strong> enfermagem).<br />

O turno noturno também é visto pelas trabalhadoras como uma espécie <strong>de</strong> “coringa” que<br />

po<strong>de</strong> ser utilizado para amenizar o dia-a-dia atribulado das entrevistadas, como nos foi dito por<br />

uma técnica: “... Necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acomodar as escalas, porque eu entrei para o outro emprego,<br />

eu achei que ia ficar “menos pior” se trabalhasse à noite...” (Lucia– técnica <strong>de</strong> enfermagem)<br />

O trabalho noturno se <strong>de</strong>staca, então, no discurso das técnicas e enfermeiras como<br />

justificativa para conciliar com outro emprego e/ou estudo ou para se <strong>de</strong>dicar mais aos filhos,<br />

já que no período noturno eles estão dormindo. Segundo afirmam, tal fato muitas vezes po<strong>de</strong><br />

abalar a vida conjugal, em vista <strong>de</strong> ser o período da noite consi<strong>de</strong>rado o período da intimida<strong>de</strong><br />

entre os casais.<br />

Sendo assim, as esferas que acabam sendo privilegiadas são as <strong>de</strong> profissional e mãe,<br />

enquanto a vida conjugal se encontra em segundo plano como nos diz a técnica:<br />

“... Priorizava o trabalho à noite porque podia ficar com meus filhos, dar atenção aos<br />

meus filhos durante o dia. É quando eu consi<strong>de</strong>ro que a criança necessita mais. Á noite<br />

eles estão dormindo. Quem sente falta é o marido, mas essa hora o marido fica em<br />

segundo plano. Quando você tem que optar, tem que colocar as necessida<strong>de</strong>s dos filhos<br />

e o marido enten<strong>de</strong>...” (Claudia - Técnica <strong>de</strong> enfermagem).<br />

Nota-se neste discurso a oposição entre conjugalida<strong>de</strong> e parentalida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> seu papel<br />

enquanto cônjuge parece ser anulado, elegendo como primordial o cuidado com os filhos, em<br />

<strong>de</strong>trimento da sua vida conjugal.<br />

Quando tecem comentários sobre o turno noturno, as trabalhadoras relatam cansaço,<br />

<strong>de</strong>sgaste físico, emocional e assumem que pagam um “preço” pela troca do dia pela noite.<br />

Na visão <strong>de</strong>las, este “preço” que costumam pagar se relaciona com o fato <strong>de</strong> abdicar do sono<br />

noturno em casa, embora tenham permissão para dormir ou repousar durante os plantões. 6<br />

“...Eu acho que trabalhar a noite sobra mais tempo para outras coisas, mas é muito<br />

cansativo. Porque a gente não repõe esse <strong>de</strong>scanso. Não <strong>de</strong>scansa, nem antes <strong>de</strong> vir e<br />

nem após. Então fica muito cansativo você <strong>de</strong>scansa pouco.” (Nazaré - Enfermeira).<br />

O <strong>de</strong>scanso em casa, seja no dia anterior ou posterior ao trabalho noturno, se torna difícil <strong>de</strong><br />

ser executado por estar mulheres, pois durante o dia também <strong>de</strong>sempenham sua função social<br />

<strong>de</strong> manutenção do lar e não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ter suas obrigações como dona <strong>de</strong> casa e mãe.<br />

6 De acordo com estudos prévios <strong>de</strong> nossa equipe, as profissionais <strong>de</strong> enfermagem <strong>de</strong>ste hospital têm permissão<br />

para dormir durante os plantões noturnos, havendo locais próprios para o repouso ou <strong>de</strong>scanso (Ribeiro-Silva e<br />

cols, 006). Em geral, as equipes <strong>de</strong> cada setor fazem uma espécie <strong>de</strong> rodízio em que cabe a cada profissional<br />

um tempo <strong>de</strong> aproximadamente três horas <strong>de</strong> repouso, <strong>de</strong>vendo-se ressaltar que a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contar com<br />

o tempo para o <strong>de</strong>scanso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da dinâmica do plantão, po<strong>de</strong>ndo não ocorrer em função da necessida<strong>de</strong> do<br />

serviço (Soares, 005).

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