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2º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero - CNPq

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<strong>2º</strong> PRÊMIO CONSTRUINDO A IGUALDADE DE GÊNERO<br />

influenciar <strong>de</strong> forma consi<strong>de</strong>rável no <strong>de</strong>senvolvimento do parto (Diniz, 00 ). Desta forma,<br />

essas percepções do parto po<strong>de</strong>m, <strong>de</strong> fato, influenciar para que este seja vivido como um<br />

evento doentio e inerentemente doloroso, que <strong>de</strong>ve ser tratado com repouso e medicações.<br />

Essa discussão das relações dos processos culturais e sociais sobre o corpo é uma discussão<br />

apropriada com autorida<strong>de</strong> pela antropologia, sendo amplas as discussões sobre esse tema.<br />

Um exemplo disto são autores como Durkheim ( 996) e Heertz ( 980) que refletiram em suas<br />

obras como os fatores sociais influenciam na própria constituição e funcionamento do corpo<br />

em seus condicionantes biológicos.<br />

O primeiro autor analisa como a normativida<strong>de</strong> que envolve a satisfação das necessida<strong>de</strong>s<br />

físicas dos indivíduos – como comer, dormir, etc. – passa a ser, ela mesma, parte fundamental<br />

<strong>de</strong>ssas necessida<strong>de</strong>s. Isto fica claro ao refletirmos sobre o fato <strong>de</strong> que, em nossa socieda<strong>de</strong>, por<br />

exemplo, não conseguimos comer <strong>de</strong>terminados alimentos – como carne crua, insetos, sangue,<br />

etc. – que seriam suficientes para saciar nossas necessida<strong>de</strong>s fisiológicas, ou dormir em pé,<br />

como <strong>de</strong>terminados elementos <strong>de</strong> outras socieda<strong>de</strong>s conseguem.<br />

Já Heertz analisa como os padrões <strong>de</strong> comportamento social existentes atuam no sentido<br />

<strong>de</strong> aprofundar e reafirmar fatores biológicos, como se po<strong>de</strong> perceber no caso das habilida<strong>de</strong>s<br />

diferenciadas entre o lado direito e esquerdo do corpo, em especial a mão. O autor tece sua<br />

argumentação ilustrando como as diversas práticas sociais que são impostas durante a vida<br />

das pessoas imputam uma verda<strong>de</strong>ira imobilida<strong>de</strong> social para a mão esquerda. Aliado a estas<br />

práticas, ele também <strong>de</strong>screve como existem uma série <strong>de</strong> representações que associam o<br />

lado esquerdo a esfera do profano, associando-o ao pecado, à impureza, ao misticismo e à<br />

indignida<strong>de</strong> física e moral.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Po<strong>de</strong>-se perceber que as propostas <strong>de</strong> humanização, <strong>de</strong> uma forma geral, estão sendo<br />

implementadas nas maternida<strong>de</strong>s, apesar <strong>de</strong> enfrentarem limitações consi<strong>de</strong>ráveis. Neste<br />

sentido, percebe-se também que há muitas dificulda<strong>de</strong>s estruturais que influenciam estas<br />

mudanças, sendo relacionadas a fatores <strong>de</strong> constituição física e cultural.<br />

Apesar disso, nota-se uma atenção consi<strong>de</strong>rável quanto aos cuidados no pré-natal, sendo<br />

disponibilizados e realizados nas duas instituições exames e consultas para as usuárias,<br />

havendo também uma satisfação em relação aos cuidados e ao atendimento com as gestantes.<br />

Além dos exames, há também uma preocupação com o apoio psicológico às mulheres, como<br />

foi percebido com a realização dos grupos <strong>de</strong> gestantes nas maternida<strong>de</strong>s – on<strong>de</strong> as usuárias<br />

recebem informações sobre cuidados com a gestação e o recém nascido semanalmente – e a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se contar com o apoio das assistentes sociais, nas duas instituições, e com o<br />

auxílio <strong>de</strong> um psicólogo, na maternida<strong>de</strong> referência.<br />

Outro ponto importante foi a abolição <strong>de</strong> algumas práticas classificadas como<br />

comprovadamente ineficazes – tais como a raspagem dos pelos pubianos ou uso <strong>de</strong> laxantes<br />

durante o trabalho <strong>de</strong> parto – e o incentivo a outras, como o contato entre mãe e filho após<br />

o parto, o incentivo ao aleitamento materno – viabilizado pelo alojamento conjunto – e a<br />

atenção a condições básicas <strong>de</strong> assepsia no contato com as mulheres e com o ambiente.<br />

Quanto à incorporação <strong>de</strong> condutas não-intervencionistas durante o parto, po<strong>de</strong>mos notar<br />

que há – na maternida<strong>de</strong> referência <strong>de</strong> humanização da cida<strong>de</strong> – uma incorporação por parte<br />

dos profissionais da conduta assistencialista que é proposta no parto humanizado, sendo as<br />

intervenções limitadas ao mínimo necessário para a garantia <strong>de</strong> que a parturiente e o bebê se<br />

mantenham saudáveis. Neste contexto é a mulher quem “faz” o parto, ao passo que o médico<br />

lhe dá o suporte necessário para que não haja complicações no transcorrer do processo.<br />

Já na outra maternida<strong>de</strong> analisada – que teve que se a<strong>de</strong>quar após cerca <strong>de</strong> trinta anos <strong>de</strong><br />

existência a este novo mo<strong>de</strong>lo – esta incorporação não está tão presente, sendo seu mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

atendimento mais alinhado aos mol<strong>de</strong>s intervencionistas, on<strong>de</strong> o médico realiza procedimentos<br />

<strong>de</strong> regulação ao longo <strong>de</strong> todo o parto, com o intuito <strong>de</strong> evitar complicações que ponham em<br />

risco a vida ou a saú<strong>de</strong> da mulher e do recém-nascido.<br />

Po<strong>de</strong>-se perceber que esta diferença <strong>de</strong> posturas em relação ao atendimento nas duas<br />

instituições é refletida também na percepção <strong>de</strong> médicos e usuárias, tendo em vista que há uma<br />

maior divulgação e conhecimento <strong>de</strong>stas propostas por médicos e usuárias na maternida<strong>de</strong>

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