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104<br />

panfletos, cartazes e outdoors que circulam condenando esse tipo de turismo, estampam sempre<br />

imagens de homens como sendo os exploradores. Então, perguntam-nos, vitimizar-se-á também aos<br />

homens que, de certo modo, se prostituem? Ou lhes será naturalizado o poder de agência, dando-<br />

lhes maior autonomia frente às estruturas sociais do que o conferido às mulheres? O relato de um<br />

interlocutor nos faz refletir como essas situações são mais semelhantes do que parecem:<br />

Sei, sei, inclusive a história do Paulão, aquele do pé grande, que andava aí pela<br />

rua, aquele altão, irmão de Cláudio, que foi bater no lugar lá da gringa, num lugar<br />

bem longe aí. [Na Europa?] Sim, então, ela deixou ele trancado dentro de casa...<br />

deixava ele trancado dentro de casa e se mandava. E ele ficava trancado [Mas o<br />

cara não sabia nem a língua?] Sabia língua nenhuma, não conhecia nada na cidade,<br />

num tinha nem como sair. Mesmo se ela deixasse a porta aberta, ele ia pra onde.<br />

[risos] Num tinha como trabalhar, porque o cara pra trabalhar lá num pode. O cara<br />

tem que se casar ou alguma coisa desse tipo. [...] Nesses outros países da Europa,<br />

brasileiro só trabalha de bico, tá ligado? Num trabalha com carteira assinada, a não<br />

ser que seja casado ou já teja lá há muito tempo. 226<br />

A idéia que é passada pelos discursos midiáticos, pautando-nos na ênfase<br />

sensacionalista atribuída a uma parcela dos casos, é que enquanto as mulheres são objetificadas e<br />

traficadas, os homens realizam viagens motivadas por prazeres sexuais. Dessa forma, não existem<br />

razões para se mover aparatos oficiais para as situações referidas pelo interlocutor. Isso nos faz,<br />

mais uma vez, questionar se os discursos hegemônicos de gênero não fragilizam igualmente o<br />

homem, como tão promulgado em relação às mulheres, cristalizando-o numa eterna posição de<br />

dominador, mesmo que suas trajetórias de vida apontem para momentos de submissão, e forjando<br />

uma aparente independência que o imuniza de qualquer tipo de situação que invada seus direitos<br />

inalienáveis.<br />

Nesse sentido, a fala de Pessoa, que denuncia um contexto de cárcere privado, de<br />

alguém que se encontra subjugado financeiramente, num país estrangeiro, sem domínio de sua<br />

língua e impossibilitado de executar uma profissão legitimada, é trazida, entre risos, pelo próprio<br />

interlocutor, como um fato cômico, revelando que a situação não é problematizada em seu grave<br />

teor e sim percebida como a falência de um ethos masculino.<br />

A partir do imaginário sobre a sexualidade brasileira que parece incentivar e encorajar a<br />

realização de encontros afetivo-sexuais pelos(as) turistas-viajantes, tomamos as reflexões de<br />

226 Pessoa, 31, pintor

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