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cotidiana.<br />
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No campo da historiografia, um dos mais importantes trabalhos sobre o cotidiano é a<br />
obra dirigida por Michel de Certeau, A Invenção do Cotidiano, de 1994 8 . Debatendo principalmente<br />
com a análise do poder de Michel Foucault (as obras de Lefebvre e Heller aparecem apenas<br />
tangencialmente), Certeau argumenta que, oposta às estratégias de dominação (operadas no nível<br />
macro pelas instituições e no micro pelos dispositivos e técnicas do poder), existe uma vasta gama<br />
de táticas de resistência, de apropriação e modificação dos regimes de controle: o estudo histórico<br />
do cotidiano se propõe a abordar as redes de “anti-disciplina”, de “anti-poder”, como táticas de<br />
praticantes. Assim, por caminhos diferentes daqueles de Lefebvre e Heller, Certeau erige a vida<br />
cotidiana como categoria de análise por meio da idéia de luta, de contradição.<br />
***<br />
A apropriação da crítica do cotidiano tem sido feita, no Brasil, particularmente pelos<br />
esforços da sociologia e da geografia urbana, de inspiração fortemente lefebvriana 9 ; somente nos<br />
últimos tempos, a historiografia brasileira tem se voltado para o tema do cotidiano, inspirada<br />
principalmente na obra de Agnes Heller e Michel de Certeau. Superando a naturalização do<br />
cotidiano como vida privada, a historiografia brasileira do cotidiano tem se voltado para as<br />
historicidades apagadas ou submetidas, revelando assim rupturas ou possibilidades de rupturas das<br />
estruturas mais gerais das diferentes sociedades. Dois estudos inovadores que podem ser citados<br />
nesta direção, dentro da historiografia brasileira, são: a tese de Marta Mega de Andrade, que trata<br />
das relações entre espaço e vida cotidiana na sociedade ateniense clássica, e o artigo de Norberto<br />
Guarinello, que discute a crise da historiografia e relação entre cientificidade da história e história<br />
do cotidiano,<br />
M. de Andrade, em seu A vida comum: espaço, cotidiano e cidade na Atenas Clássica 10 ,<br />
procura construir uma história do cotidiano na sociedade ateniense marcando a sua especificidade: a<br />
8 CERTEAU, Michel de. A Invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994.<br />
9 MARTINS, J. de S. A sociabilidade do homem simples. São Paulo: Hucitec, 2000.<br />
10 ANDRADE, Marta Mega de. A Vida comum – espaço, cotidiano e cidade na Atenas Clássica. Rio de Janeiro:<br />
DP&A, 2002.