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são os que passam a preencher esse papel de sujeitos desejados, bem como os imaginários que<br />

contornam de significados esta atividade. Quais as efetivas mudanças ocorridas no resultado dessa<br />

equação quando a ordem dos fatores é alterada? Como esse novo fenômeno, que desestabiliza<br />

representações de gênero cristalizadas de maneira doxa 204 no imaginário social, seria encarado pela<br />

sociedade mais ampla?<br />

Em Pipa, esses sujeitos parecem ocupar posições inversas, ou seja, quem se desloca e<br />

realiza longas viagens são as mulheres (em sua maioria, oriunda dos países europeus) e quem presta<br />

serviços sexuais são os homens locais. 205<br />

2. Novas faces da prostituição e do turismo sexual.<br />

A prostituição, já há algum tempo, não é exercida somente por mulheres, como diz<br />

Rogério Araújo, em seu livro Prostituição: artes e manhas do ofício. Na verdade, já faz duas<br />

décadas que Nestor Perlongher publicou O negócio do michê: a prostituição viril, livro em que<br />

coloca em evidência todas as nuances do trottoir masculino pelo centro de São Paulo, trazendo à<br />

tona as figuras da travesti e do michê como outros profissionais do sexo.<br />

Perlongher vislumbrava um continuum na prostituição, em que se tem como pólos<br />

opostos a travesti e o michê, em que a primeira vende a representação dita artificial da feminilidade<br />

e o segundo, uma representação essencializada da masculinidade. São essas construções que<br />

levaram Fry e MacRae 206 a afirmar que “o michê é o travesti do homem, assim como o travesti o é<br />

da mulher.”<br />

O termo michê possui duas acepções, uma delas se refere ao próprio ato da prostituição,<br />

o “fazer michê”, e a outra é usada “para denominar uma espécie sui generis de cultores da<br />

prostituição: varões geralmente jovens que se prostituem sem abdicar dos protótipos gestuais e<br />

204BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco zero, 1983.<br />

205Essas questões me apareceram quando, ainda em 2006, residi em Pipa entre os meses de Fevereiro e Setembro,<br />

formei algumas amizades e presenciei o cotidiano dessa praia e de parte de seus moradores.<br />

206 1983, apud. PERLONGHER, 1987: 19.

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