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seria a única medida cabível e sequer sua descriminalização se tornaria prerrogativa aceitável. 113 .<br />
57<br />
Contudo, assistimos atualmente a um movimento bastante sólido em direção à<br />
descriminalização dessa atividade, requerendo seu status de profissão legalmente reconhecida. O<br />
que nos faz pensar, pertinentemente, se as pessoas que a executam realmente a percebem nos<br />
contornos nefastos que são propostos por algumas opiniões. Sobre isso nos fala Simmel, que mesmo<br />
engendrado nas linhas morais da sua época, já elabora chaves para se pensar a prostituição sobre<br />
outros moldes:<br />
A indignação moral que a ‘boa sociedade’ manifesta em relação à prostituição é<br />
sob muitos aspectos matéria de ceticismo. Como se a prostituição não fosse a<br />
conseqüência inevitável de um estado de coisas que essa ‘boa sociedade’ impõe ao<br />
conjunto da população! [...] Claro que a primeira vez em que o infortúnio, a solidão<br />
sem recursos, a ausência de educação moral, ou ainda o mau exemplo do ambiente<br />
incitam uma moça a se oferecer por dinheiro e por outro lado, a indescritível<br />
miséria em que, de ordinário, sua carreira se encerra, claro, entre esses dois<br />
extremos, existe na maior parte do tempo um período de prazer e<br />
despreocupação 114 .<br />
Ao utilizar esta citação, procuro trazer sua interpretação para o nosso tempo. Quando se<br />
fala, que a ‘boa sociedade’ empurra determinadas pessoas para a prostituição, não seria apenas,<br />
como quer Simmel, pelo aspecto de abjeção e de miséria que possa possuir determinada parcela da<br />
população que se prostitui, por mais que não esteja aqui afirmando que isso também não ocorra 115 .<br />
Mas, diante desta explicação unilateral, como explicaríamos, por exemplo, sobre estes termos, a<br />
prostituição de meninas de classe média alta, universitárias, advindas dos status mais altos da<br />
hierarquia social, que praticam a atividade em nome do consumo ou por outras motivações como o<br />
gosto e prazer. Contudo me faltam dados para melhor dissertar sobre estas motivações específicas.<br />
O que estou aqui procurando problematizar é que nossa sociedade atualmente não<br />
incentiva a prostituição apenas sobre os termos econômicos que nos fala ainda o autor, ou mesmo<br />
113 FRIEDMAN, David M. Uma Mente Própria: A História Cultural do Pênis. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.<br />
114 SIMMEL. Georg. Filosofia do amor. São Paulo: Martins Fontes, 2001.<br />
115“Não tenho cabeça pra pista mais não. Eu gostava em São Paulo. Por que em São Paulo ganha dinheiro. Aqui não<br />
ganha dinheiro. Namorado na pista? Aparecer, aparecia... Aparece. Só que na pista não pode se apaixonar. Tem que<br />
olhar e pensar no bolso do homem. Não pensar em amor, nem beijinho, entendeu? Só por dinheiro. Se num tiver<br />
dinheiro tira calça, tira o sapato, me dá a carteira, me dá o anel. Mesmo eu carente” (Sheila Magda, 37 anos, travesti).