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discursivos da masculinidade em sua apresentação diante do cliente.” 207<br />

98<br />

Entretanto, esses outros sujeitos que se prostituem também o fazem em busca de uma<br />

clientela composta por homens. Mesmo a prostituição viril descrita por Perlongher é uma<br />

prostituição consumida por homens. Sua etnografia foi realizada no centro de São Paulo,<br />

caracterizada como uma região de grande circulação de homossexuais que desejam relacionar-se<br />

sexualmente, seja num “banheiro de pegação” de um cinema pornô ou através dos serviços<br />

disponibilizados por travestis e michês.<br />

Diferentemente das travestis 208 , os michês não realizam intervenções corporais visando<br />

uma aproximação de um ideal feminino, apenas condicionam o corpo a um treinamento para que os<br />

traços de virilidade sejam essencializados, através da performance, não havendo ruptura com a<br />

aparência masculina dita normal. Neste sentido, considera-se de maneira mais prosaica, que<br />

qualquer homem jovem pode praticar a michetagem sem sofrer com o estigma dessa condição 209 ,<br />

imputando-o aos seus clientes, pois não é preciso desfazer-se da “cadeia discursiva e gestual da<br />

normalidade.” 210<br />

Apesar de desvincular a venda de favores sexuais da feminilidade, o trabalho de<br />

Perlongher não discute o consumo desses serviços por mulheres – ele se justifica afirmando que<br />

havia uma baixa freqüência delas, mas é bom ressaltar que sua etnografia foi realizada num gueto<br />

gay -, apenas comenta, citando Bruckner e Finkielkraut (1979), que caso esse costume houvesse se<br />

desenvolvido entre as mulheres, “as clientes é que continuariam a ser chamadas de putas, pois é<br />

evidente que o que consideramos prostituído não é tanto o corpo vendido, mas o corpo penetrado.”<br />

É exatamente nessa brecha teórica que busco desenvolver o presente artigo, chamando a<br />

atenção para o crescente fenômeno da prostituição masculina heterossexual, que vem ganhado<br />

corpo no contexto brasileiro também mediante o assédio da atividade turística. Todavia, o tipo de<br />

prostituição foco de nossa problematização apresenta uma série de dessemelhanças em relação às<br />

207 PERLOGHER, N. O. O negócio do michê: a prostituição viril em São Paulo. São Paulo: Brasiliense, 1987.<br />

208 Um estudo etnográfico mais aprofundado sobre a performatização do feminino, ver: SILVA, Hélio (2003) e<br />

FIGUEIREDO (2008).<br />

209 Sempre que comentava com algum amigo, de fora ou mesmo de dentro da academia, sobre a pesquisa que<br />

desenvolvo, ouviam-se sempre comentários como: “Que pesquisa boa, hein?”, “Se tu tiver precisando de ajuda...”,<br />

“Pra fazer parte desse negócio, o ‘cara’ tem que ser muito bonito?”, o que reforça essa idéia lançada por Perlongher de<br />

que, para o homem, fazer parte de um envolvimento afetivo-sexual permeado por outros interesses, pelo menos de vez<br />

em quando, não causa maiores constrangimentos.<br />

210 PERLOGHER, N. O. Op. cit.p.21

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