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e disse: ‘Você não tem o que fazer não? O que é que você está fazendo aqui?’ Ah!<br />

Nessa hora, minha filha, saio louca. Mas louca não de raiva, mas de prazer.<br />

(Flávia)<br />

Na fala de Flávia é possível encontrar alguns dos elementos que distinguem seu atual<br />

parceiro, significado por ela como indefeso e omisso em relação a sua proteção, o qual deixa os<br />

problemas chegarem à sua porta e não sente ciúmes; diferente o homem todo ou o homem de<br />

verdade, expressão que reflete a imagem idealizada do homem que se quer como parceiro, quando<br />

se vive nos ideais da travestilidade:<br />

É aquela coisa: carência e segurança. Porque é muito bom você ter uma pessoa e<br />

saber que está sendo protegida por aquela pessoa. Sabendo que você vai enfrentar o<br />

preconceito e aquela pessoa está ali do seu lado. O problema todo é esse. E o<br />

desejo é o dia-a-dia. [...] O meu antigo era assim. Homem todo. Não procurava a<br />

minha frente, era beijo nos seios pra cima, não tinha aquela coisa, tá entendendo?<br />

A carência, a maneira de pegar, a maneira de acariciar, a relação da foda mesmo<br />

era diferente, porque eu só fazia mesmo as posição de mulher. Sempre eu escondia<br />

o meu lado... Aquela coisa... (Flávia)<br />

Esta idealização do parceiro afetivo-sexual foi também observada por Pelúcio<br />

(2006:526), quando afirma que elas “esperam que os ‘homens de verdade’ sejam másculos, ativos,<br />

empreendedores, penetradores”. Os homens de verdade são aqueles que não possuem outro<br />

interesse além de amar, prover e assumir sua parceira como esposa e mulher, tratando-a, assim,<br />

dentro dos ideais tradicionais do casal heterossexual e monogâmico.<br />

Flávia significa a expressão homem todo através também da preferência de prática<br />

sexual executada por este homem, que, para ela, reflete como significante de sua virilidade e de sua<br />

orientação sexual para a heterossexualidade 138 . Reproduzindo, assim, os modelos da<br />

heteronormatividade, na divisão de práticas sexuais entre ativos e passivos, que revelarão fatalmente<br />

as preferências sexuais do sujeito que vive sobre este imaginário. Isto porque, de maneira muito<br />

freqüente “[...] as travestis gostam de se relacionar sexual e afetivamente com homens, porém, não<br />

se identificam com os homens homo-orientados” 139 .<br />

138 “Não gosto de transar com veado, nem com bicha machuda, que vira de costas pra mim, faço isso por que minha<br />

profissão exige. Mas gosto mesmo de homem... de homem de verdade” (Joana, 23 anos, travesti).<br />

139 PELÚCIO. Larissa Maués. “Toda Quebrada na Plástica”: Corporalidade e construção de gênero entre travestis

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