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epidemia, todos que puderam deixaram a cidade apressadamente. Os pais foram<br />
buscar suas filhas no colégio, e as professoras, sem trabalho, foram licenciadas até<br />
que melhorasse o estado de saúde na cidade. 258<br />
Pensar em dificuldades financeiras, epidemias e demais sintomas de atraso frente à<br />
modernidade que se apresentava é contraditório. Várias foram as frentes em que essas mulheres<br />
atuaram, assim como várias foram as faces que Ribeirão Preto vestiu durante a primeira República.<br />
A documentação e a bibliografia pesquisadas ainda nos permitem enxergar outras mulheres: ora<br />
sofrendo de abusos sexuais 259 , ora alvo da indignação popular, por conta de uma opção<br />
homossexual. Enfim, uma infinidade de representações que nos permitem afirmar que a História das<br />
mulheres ribeirãopretanas não deve levar em conta apenas as coristas, as religiosas e as mulheres da<br />
elite. Além do mais, todas essas imagens possibilitam-nos compreender outra cidade. Em uma<br />
relação de contraste com o centro europeizado, a periferia negava a descrição de Monteiro Lobato,<br />
afirmando as contradições do embelezamento, da civilização e das desejosas intervenções<br />
urbanísticas:<br />
E esse lugar não poderia ser a área da cidade aonde implementariam as políticas<br />
urbanas orientadoras da materialização da cidade moderna. Região que se<br />
ocupariam por residências urbanas, edifícios públicos ecléticos e jardins públicos<br />
arborizados, financiados, em primeiro momento, pelo capital resultante da<br />
exportação do café. Era fundamental um estabelecimento de um zoneamento tanto<br />
social quanto urbano, que distinguisse os grupos sociais e as suas singularidades.<br />
Assim como suas localizações em um território separado por temporalidades<br />
antagônicas nas suas representações de progresso e atraso, urbana e rural,<br />
civilizada e bárbara. Respectivamente toda a área central, protegida pelas águas do<br />
Retiro e do Ribeirão Preto, e a outra, já periférica e alem das margens opostas<br />
destes mesmos córregos, ocupada por bairros de trabalhadores, como o Barracão e<br />
a Vila Tibério. 260<br />
Construir a cidade e moldar seus habitantes! A idéia de civilização estava embutida nos<br />
corações e mentes desses agentes transformadores do urbano. Diante dessa ansiedade, coube à<br />
mulher cumprir o papel de modelo das normas pré-estabelecidas, a fim de transmitir os princípios<br />
258 CIONE, R. História de Ribeirão Preto... Op. cit. p, 247-248.<br />
259 DE TILIO, R. Casamento e sexualidade em Processos Judiciais e Inquéritos Policiais na Comarca de<br />
Ribeirão Preto (1871 a 1942): concepções, práticas e valores. Dissertação (Mestrado, Psicologia) - Faculdade de<br />
Filosofia Ciências e Letra de Ribeirão Preto/USP, 2005; FRANÇA, J. L. Meretrizes na Belle Époque do Café: cabaré e<br />
sociedade (1890-1920). (Monografia em História) - Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto, 2006.;<br />
CHICHITOSTT, A. P. M. Delitos sexuais em Ribeirão Preto: 1878 a 1913. Monografia em História (Especialização).<br />
Centro Universitário Barão de Mauá. 2007.<br />
260 FARIA, R. S. Ribeirão Preto, uma cidade em construção (1895-1930): o moderno discurso da higiene, beleza e<br />
disciplina. Dissertação (Mestrado em História) Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências<br />
Humanas. 2003, p.136-137.