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elações com as elas.<br />

67<br />

Desejo, quem sabe, encontrar um homem que não tenha por mim um interesse<br />

financeiro, mas interesse como pessoa. É isso o que eu procuro nos homens.<br />

Porque os homens quando chegam perto da gente: ‘Gostei de você, quero ficar com<br />

você. ’ Mas a gente sabe que é na maneira financeira. Sempre rola de encostar<br />

(Flávia).<br />

O que falta a esses homens também, além dos signos já destacados para serem então<br />

considerados por elas como ‘de verdade’, reside justamente na sua característica de passividade.<br />

Mas não só uma passividade no que se refere à prática sexual, como também diante de uma possível<br />

traição, sendo o ciúme simbolizado por elas, como prova de amor 140 .<br />

Mas essa característica de passividade, depreciada na travestilidade no que tange às suas<br />

escolhas de parcerias afetivas, também se relaciona através da incapacidade, bem como vontade,<br />

deste homem prover o lar e sua companheira. Esses relacionamentos passam a ser vividos sobre esta<br />

categoria de ‘putaria’, onde se supre conscientemente apenas uma necessidade de carência<br />

momentânea ou uma atração sexual, mas nunca a envolvê-las emocionalmente, ou seja,<br />

romanticamente, como já nos revelou Flávia numa das falas acima.<br />

Não! Outros amores nunca, filha. Depois do meu homem, apareceu assim só<br />

ficantes. Ficantes mesmo. É como se diz, só na putaria. Só por prazer. Por que<br />

agente nota, né? Um interesse no dinheiro, mesmo que você não tenha nada. O que<br />

eles podem sugar eles sugam. (Sheila Magda).<br />

A atmosfera que acompanha a idéia de putaria remete a certo deslocamento de um<br />

modelo romântico para a contingência característica do modelo confluente. Podem assim<br />

acompanhar a tendência atual individualista 141 de terem cravados em suas histórias de vida vários<br />

relacionamentos afetivo-sexuais, contudo, mesmo assim, e mais uma vez hibridizando<br />

performaticamente categorias, apenas um será lembrado e carregado de afetividades positivas, e<br />

140 “Eu gostei do outro, que foi o que realmente eu me relacionei, passei três anos com ele. A gente passou três anos<br />

juntos. Se curtindo passei três anos e quatro meses com ele, ele era muito ciumento, gostava muito de mim. Quando<br />

saia tinha que ter hora de chegar, quando nem esperava ele ligava, me controlou totalmente. Na época, ele trabalhava<br />

na padaria da tia dele. Ele me tirou da batalha, não queria que eu me prostituísse, foi bem difícil pra mim, porque ele<br />

ganhava pouco e na época eu ganhava dinheiro na pista, mas eu gostava dele, então parei e foi por que ele quis, não<br />

queria ver a mulher dele com outros” (Amanda, 36 anos, travesti).<br />

141 BAUMAN. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

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