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característica de contingência dos significantes de teor estático dos gêneros, a partir do ponto em<br />
que ditos sujeitos-corpos masculinos podem parodiar os sujeitos-corpos femininos.<br />
No que tange ao outro pólo observado, (2) o que elas acreditam atrair os outros em<br />
sua experiência, as características físicas também fazem vez, mas não só o seu aspecto de encontro<br />
com o feminino, embora também a preocupação em deixar clara suas medidas e seu intenso<br />
cuidado, bem como sua distinção através de titulações próprias do universo da travestilidade,<br />
buscando talvez afirmar e atestar sua beleza e sucesso de modificação, capital simbólico bastante<br />
valorizado devido às conseqüências de deformação corporal que podem sofrer diante da certa<br />
‘precariedade’ de suas práticas (como o uso do silicone industrial) de modificações corporais.<br />
Ter, então, sucesso através do uso dessas práticas, promove a construção de um ‘estilo<br />
de carne feminina’ que deve ser salientado e acentuado como conquista dignificante e elemento de<br />
distinção, sendo, portanto, importantes signos para elaborar esta rápida apresentação. Dando uma<br />
atmosfera extraordinária à sua corporeidade, enfatizam características como: serem indelevelmente<br />
perfeitas; seios 66 bumbum 110; gata luxo; alto nível; sem decepção; corpo de modelo; miss; ex-<br />
miss; top de linha; travesti nº 1; de A a Z; artigo de luxo; pantera; incomparável beleza, rosto e<br />
corpo exuberante; belíssima.<br />
Vemos, assim, nessa operação entre o que elas crêem ser e o que acreditam ocasionar<br />
desejo neste outro, o sacar de categorias que revelam a preocupação em se mostrarem, para além do<br />
corriqueiro, mais que bonitas, estando muito além das ‘mulheres comuns’, que disputam com elas<br />
este espaço de divulgação.<br />
Percebe-se, pois, que os significantes que alicerçam esta feminilidade extraordinária<br />
revelam que os corpos marcados por gênero são assim, “[...]‘estilos de carne’. Esses estilos nunca<br />
são <strong>completa</strong>mente originais, pois os estilos têm uma história, e suas histórias condicionam e<br />
limitam suas possibilidades” 110 .<br />
Ainda assim, mesmo diante desses investimentos discursivos, parece que é dada, ao<br />
cliente da travesti, uma possibilidade distinta de ‘conferir’ suas características afirmadas nesses<br />
anúncios. A grande maioria das travestis disponibiliza seus home pages aos clientes, ao contrário<br />
das mulheres. Isso se explica pelo fato de que talvez uma mulher não necessite tanto comprovar<br />
suas características femininas, pois já carrega nas suas trajetórias a bagagem do discurso ontológico.<br />
110 BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e sub<strong>versão</strong> da identidade. Rio de Janeiro: Civilização<br />
Brasileira, 2003. p. 198.