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pessoa se preocupar, você saber que tá ali, você passou a noite, você tá com<br />
fome... E ele vem e chega com uma marmita. Dar aquele carinho, aquela coisa<br />
toda. Eu acho que isso é que se diz amor, por que não é aquela coisa. E um amor,<br />
você não sabe explicar. Acontece. Como é que você vai experienciar o amor. O<br />
pessoal diz ‘o amor é um coração’. Será que é só isso? Será que o amor é um<br />
coração? A palavra amar é tão forte! ‘Eu amo você! ’ Em que sentido você me<br />
ama? É aquela coisa do desejo, mas desejar todo mundo deseja. Amar são outros<br />
quinhentos (Flávia).<br />
Diante desses três atos parodísticos característicos desta experiência, podemos perceber<br />
a atmosfera de contestação política como proposta por Butler (2003) que subjaz sobre esta<br />
atmosfera acrítica, que pode as atitudes paródicas apressadamente representar. A contestação se<br />
demonstra então como modalidade característica desta execução performática e paródica, já que,<br />
segundo a autora, tanto a ação quanto a sub<strong>versão</strong> só podem ocorrer via práticas de variação<br />
repetida e descontextualizada dos rígidos modelos da cultura hegemônica. Pode-se, neste sentido, e<br />
incisivamente, ser tomada por este grupo como instrumento de ação a servir para desnaturalização<br />
dos rígidos esquemas pelos quais os gêneros inteligíveis são significados, que como vimos se<br />
encontram muito distantes das práticas e da multiplicidade dos sujeitos atuais.<br />
Através da proliferação da reflexão que envolve os atos de performatividade<br />
parodística, mostrando tanto os aspectos dissonantes, que podem ser geridos nas atitudes de<br />
corporalidade dos sujeitos sociais, bem como a abertura de cisões nos significantes de gênero, nos<br />
levam a identificar que:<br />
No Lugar de uma identificação original a servir como causa determinante, a<br />
identidade de gênero pode ser reconcebida como uma história pessoal/cultural de<br />
significados recebidos, sujeitos a um conjunto de práticas imitativas, que se<br />
referem lateralmente a outras imitações e que, em conjunto constroem a ilusão de<br />
um eu de gênero primário e interno marcado pelo gênero, ou parodiam o<br />
mecanismo dessa construção 148 .<br />
148 BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e sub<strong>versão</strong> da identidade. Rio de Janeiro: Civilização<br />
Brasileira, 2003:185-214.