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164<br />

“[...] Conquistavam as moças, fumam charutos, freqüentam os barbeiros, bebem conhaque,<br />

promovem ‘pipirais’ e tempo houve em que os já vi, fregueses assíduos de uma casa de jogos” 365 .<br />

Provavelmente a liberdade masculina era consentida pela família que promovia formas<br />

de educação diferenciadas para filhos e filhas. A afirmação da masculinidade com o livre exercício<br />

da sexualidade ainda era uma prática aceita entre a sociedade e, em alguns casos, até apoiada pela<br />

família. Não obstante, aqueles jovens, que foram acusados de sedutores, ao fugirem do<br />

compromisso firmado, teriam o apoio dos próprios pais, para não assumir a responsabilidade.<br />

Usualmente, a condição social destoante entre os namorados era a principal razão para os pais<br />

auxiliarem na fuga dos filhos. O desejo de conseguir um casamento com uma moça de igual, ou<br />

melhor, condição financeira fazia os rapazes elaborarem estratégias que auxiliavam na ruptura do<br />

compromisso com a seduzida.<br />

Os crimes de defloramento podem trazer, ainda, outros sentidos que invadem as<br />

limitações da definição de um delito contra a honra das famílias. Em pesquisas anteriores sobre a<br />

década de 1970, um número considerável das queixas de estupro e sedução sexual levados à<br />

delegacia de polícia da cidade de Goiânia foi considerado falso. 366 Ao final dos inquéritos, as<br />

investigações concluíram que as moças mentiam nos depoimentos, ao afirmarem terem sido vítimas<br />

de violência, quando, na realidade, tiveram relações com os namorados por vontade própria. A<br />

queixa seria então usada como uma estratégia empregada pelas jovens para pressionar o pretendente<br />

a assumir um compromisso de casamento, já que encontravam um respaldo na lei, que poderia<br />

punir, com prisão, um acusado de crime sexual. Ao estudar também casos de sedução sexual em<br />

Teresina entre os anos de 1930 e 1970, Bernardo Pereira de Sá Filho observou que nem sempre as<br />

vítimas demonstravam passividade dentro do relacionamento. Isso acabava por ser confirmado em<br />

seus depoimentos e nos exames de corpo de delito, que apontavam não somente os freqüentes<br />

relacionamentos sexuais, como também a prática do coito anal. Por ser entendido como uma tática<br />

contraceptiva, o coito anal era caracterizado como uma per<strong>versão</strong> sexual, o que culminava em uma<br />

condenação da “seduzida”, transformando-a em sedutora 367 .<br />

O consumo feito pelos homens sobre a difusão de valores acerca do casamento pode ser<br />

365 A expressão pipirais é atribuída a festas populares com a presença de moças pobres trabalhadoras da Fábrica de<br />

Fiação e Tecidos de Teresina, chamadas popularmente de pipiras. C. G. As crianças. Pátria, Teresina, ano 4, n. 267, 2<br />

fev. 1906, p. 1.<br />

366 COSTA, Lívia Batista da. Da defesa da honra à defesa da vida: uma historia da violência contra mulher na<br />

cidade de Goiânia. 2006. f. 130. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Goiás.<br />

367 SÁ FILHO, Bernardo Pereira de. Cartografias do prazer: boemia e prostituição em Teresina: 1930-1970. 2006.<br />

Dissertação. (Mestrado em Historia do Brasil). Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2006, f. 132-133.

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