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travestis. Só assim elas se tornarão ‘belíssimas. 99<br />

No filme ‘Tirésia’, se torna bastante perceptível o valor e aspecto imprescindível do<br />

cuidado para a promoção da pessoa travesti. A execução e a manutenção das remodelações<br />

corporais demonstram como este corpo se torna fruto de preponderante agência, percebido através<br />

da pragmática de utilização de um aparato tecnológico disponível e reinventado para a promoção<br />

dos si mesmos possíveis. 100<br />

Tirésia nos traz a história de uma travesti brasileira, a qual se prostituíra em Paris, e que<br />

uma vez seqüestrada, é mantida em cárcere afastada de seus mecanismos de construção corporal.<br />

Durante o período em que é mantida em cativeiro, podemos observar suas mudanças corporais,<br />

onde contrariamente dada à falta dos usos de suas práticas, o masculino passa a se fazer presente<br />

neste corpo que necessita de constante manutenção, dos símbolos, de corporeidade feminina,<br />

criados a viva derme, e sua obra passa a ser traída pela impossibilidade de manusear este corpo<br />

polimorfo.<br />

Fruto da ausência das práticas travestidas é possível apreciarmos com o passar do tempo<br />

em cárcere, amarrada pelas mãos à cama, que seu chuchu 101 passa a nascer, a não ingestão dos<br />

hormônios femininos fazem o já aspecto de hibridez de seu corpo se tornar ainda mais acentuado.<br />

As formas anguladas e quadradas de sua anatomia masculina passam a acentuar sua dependência<br />

dos cuidados de si específicos deste grupo.<br />

Quando nua, ao banhar-se, se dirige ao seu algoz e delata a realidade’ de sua<br />

99 PELÚCIO. Larissa Maués. O gênero na carne: Sexualidade, corporalidade e pessoa: Uma etnografia entre travestis<br />

paulistas. In: GROSSI, P. e SCHWABE, E. (orgs). Política e Cotidiano: estudos antropológicos sobre o gênero, família<br />

e sexualidade. Blumenau: Nova Letra, 2006.<br />

100Segundo, KAUFMANN (2005), os aspectos de subjetivação assumem formas tão múltiplas, que não é possível<br />

analisar o sujeito como uma parte separada dos contextos e imaginários sócio-culturais que o cercam, e que mesmo<br />

trabalhando através da teoria dos Si Mesmo Possíveis, sendo esta uma das “modalidades mais avançadas de<br />

subjetivação”, os agenciamentos de subjetividade ainda se encontram constrangidos pelos self-schemas, que resultam<br />

da “trajetória social, da história das pessoas”. Portanto, mesmo conscientes do alto grau de subjetivação alcançado<br />

pela atuação dos nossos si mesmos possíveis, ele ainda irá operar dentro de nossa matriz de apreciação sócio-cultural.<br />

Contudo, mesmo sobre estes termos este conceito cabe de maneira pertinente aqui, pois: “Os si mesmo possíveis [...]<br />

exigem esforço e assunção de riscos. A este custo, eles autorizam um trabalho de reforma de si mesmo<br />

verdadeiramente inovador, nos limites do realizável, em que o presente consegue momentaneamente colocar entre<br />

parênteses o peso do passado. Eles representam uma das modalidades mais conseguidas da subjecividade em obra na<br />

invenção de si mesmo” (op. cit: 70).<br />

101 Maneiras como as travestis emicamente designam os pêlos do rosto, que não chegam a se transformar em barba,<br />

devido a intensa vigilância. Adquire assim o aspecto dos pequenos espinhos que brotam do chuchu devido intervenção<br />

constante através de inúmeras técnicas.

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