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Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

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É, portanto, justificado, legítimo e mesmo esperado que o tema se coloque<br />

também como uma prioridade <strong>na</strong> pauta de discussões de uma área tão fortemente<br />

implicada no que Norbert Elias chamou de “processo civilizador”, como o é a<br />

<strong>educação</strong>. Entretanto, em um ensaio em que discute a tensão entre pacificação e<br />

um tipo prevalente de violência, o mesmo autor ( 997) faz uma consideração que<br />

desarranja um pouco essa representação acerca da onipresença da violência <strong>na</strong> vida<br />

social atual. Exatamente por que desarranja, vou me permitir trazê-la para o texto<br />

em uma citação mais demorada. Diz ele:<br />

214<br />

Quando se empenham em exami<strong>na</strong>r o problema da violência<br />

física <strong>na</strong> vida social dos seres humanos, as pessoas fazem freqüentemente<br />

o tipo errado de perguntas. É costume perguntarse:<br />

como é possível que pessoas vivendo numa sociedade possam<br />

agredir fisicamente e matar outras [..]? Ajustar-se-ia melhor aos<br />

fatos e seria, assim, mais proveitoso, se a pergunta fosse formulada<br />

de modo diferente [...]: como é possível que tantas pessoas<br />

consigam viver normalmente juntas em paz, sem medo de<br />

serem atacadas ou mortas por pessoas mais fortes do que elas,<br />

como é hoje o caso em grande parte [das sociedades em que vivemos]?<br />

[...] Talvez esse fato se evidencie primeiro quando nos<br />

apercebemos de quão mais elevado era o nível de violência <strong>na</strong>s<br />

relações entre pessoas em épocas pregressas do desenvolvimento<br />

humano. [...] É uma questão de despertar de novo o sentimento<br />

das pessoas para um fato que é surpreendente e ímpar: o grau<br />

relativamente elevado de não-violência que é característico das<br />

organizações sociais atuais. (ELIAS, 997: ).<br />

O argumento de Elias me é útil por várias razões. Em primeiro lugar, pela<br />

desacomodação que a inversão da pergunta provoca, quando sugere que a violência<br />

continua sendo exceção e não regra nestes tempos em que vivemos. Em segundo<br />

lugar porque, ao fazer referência à violência física e remeter às organizações sociais,<br />

a citação nos coloca diante da complexidade e da pluralidade de significações que<br />

envolvem o tema, que também são referidas por várias/os estudiosas/os que se têm<br />

dedicado a discutir a violência em seus diferentes desdobramentos e nuances. Ao<br />

admitirmos essa complexidade, estamos assumindo que aquilo que se entende, se<br />

nomeia, se pratica e se sofre como violência muda ao longo do tempo, e também no<br />

mesmo tempo, <strong>na</strong>s diferentes sociedades e nos grupos culturais.

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