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Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

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ou promovê-la não significa fazer do encontro com o “diferente” um anúncio<br />

da descoberta de um paraíso perdido, nem da diferença um valor em si mesmo.<br />

04 Tão ao gosto dos bem-pensantes, a insistência em ver o “diferente” a<br />

partir de prismas da idealização ou do exotizismo (ou pior, da higienização<br />

normalizadora) significa desejar mantê-lo a uma distância segura, produzindo<br />

um “outro sem alteridade”, sem possibilidades de tensio<strong>na</strong>r, dócil, domesticado,<br />

conveniente, subalterno e, sobretudo, previsível. 0 E mais: aqui, respeitar<br />

a diferença não significa valorizá-la independente de seus conteúdos, prescindindo<br />

de qualquer parâmetro ético. Tampouco comporta buscá-la ou preservá-la<br />

a todo custo, fazendo dela um fetiche, numa ode ao diferencialismo e à<br />

separação – funcio<strong>na</strong>l à reprodução da domi<strong>na</strong>ção exter<strong>na</strong> em relação ao grupo<br />

e, inter<strong>na</strong>mente, da manutenção do poder concentrado <strong>na</strong>s mesmas mãos.<br />

Educação pluralista e emancipatória: a<br />

diversidade e seus recursos<br />

Uma das razões pelas quais Homi Bhabha ( 997 e 00 : - ) prefere falar<br />

em “diferença” em vez de “diversidade” é o fato de se pensar esta última como uma<br />

realidade ou condição já dada, estática, uma reafirmação do idêntico. 0 Porém, a<br />

noção de “diferença” usualmente empregada é aquela fagocitada pelo engessamento<br />

essencialista e sua lógica ficcio<strong>na</strong>l. Uma diferença predisposta a ser celebrada <strong>na</strong><br />

condição (e sob condição) de uma diversidade afeita a um reconhecimento reificante,<br />

auto-referente, segregador e, às vezes, também auto-segregador.<br />

O novo descaso em relação à diferença é teorizado como reconhecimento<br />

do “pluralismo cultural”: a política informada e defendida<br />

por essa teoria é o “multiculturalismo”. Ostensivamente,<br />

o multiculturalismo é orientado pelo postulado da tolerância li-<br />

xeque as dicotomias masculino/feminino, homem/mulher, heteros<strong>sexual</strong>/homos<strong>sexual</strong>; e ainda outros não<br />

se contentam em atravessar as divisões, mas decidem viver a ambigüidade da própria fronteira” (LOURO,<br />

2004c: 37). Uma “política de identidades” nos atuais termos do “politicamente correto” poderia levar isso<br />

em conta?<br />

104 O multiculturalismo liberal supõe, aberta ou tacitamente, que “cada diferença é dig<strong>na</strong> de ser respeitada e<br />

perpetuada justamente por ser uma diferença”. O comunitarismo e o localismo que seguem tal formulação<br />

facilmente resvalam em posturas auto-referentes e provincia<strong>na</strong>s.<br />

105 Cultivar atitudes pater<strong>na</strong>listas ou com verniz de cosmopolitismo (ambas muito encontradas entre bempensantes)<br />

contribui para manter i<strong>na</strong>lteradas as relações entre domi<strong>na</strong>ntes “tolerantes” e domi<strong>na</strong>dos “tolerados”<br />

(SILVA, 2000: 97-99; ŽIŽEK, 2003: 25). Para uma crítica da “tolerância cosmopolita” e sua contraposição<br />

à noção de “hospitalidade”, vide: DERRIDA, 2003: 186, BORRADORI, 2004: 134-143, 168-171 e<br />

MATOS, 2006: 53-66.<br />

106 Bhabha, ao promover a inversão do conceito estruturalista de “diferença” (uma matriz de criação de identidade),<br />

preconiza o atravessamento das fronteiras, de modo a fazer da experiência da alteridade algo a ser<br />

vivido como assunção consciente de uma identidade híbrida, cindida, mas subversiva.<br />

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