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Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

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discussão dos conteúdos curriculares e das formas de ensi<strong>na</strong>r, aprender e conviver.<br />

Não menos importantes seriam os esforços para garantir maior autonomia ao espaço<br />

escolar em relação a outros campos privados de formação e para construir uma<br />

escola mais democrática.<br />

“Educar <strong>na</strong> diversidade”, neste sentido, pressupõe o empenho para desestabilizar<br />

qualquer pretensão, ressentimento, intolerância ou ódio alimentados pelo<br />

“<strong>na</strong>rcisismo das peque<strong>na</strong>s diferenças” 7 . Requer, portanto, o desenvolvimento de<br />

uma postura de abertura em relação ao “outro”: de acolhimento, de reconhecimento<br />

da legitimidade da diferença 8 e de rediscussão acerca dos processos de<br />

produção de diferenças e dos mecanismos de distinção e hierarquização entre<br />

todos os sujeitos envolvidos, tendo em vista que o reconhecimento da diferença é<br />

“um ponto de partida de um longo e talvez tortuoso processo político, mas no limite<br />

benéfico” (BAUMAN, 00 b: ).<br />

Assim sendo, o “educar <strong>na</strong> diversidade” desdobra-se segundo uma perspectiva<br />

de transformação e emancipação que deve ser, ao mesmo tempo, cultural, social,<br />

psicológica, política, individual e coletiva. Ao assim educarmos (e nos educarmos),<br />

ensejaríamos maior conscientização acerca de nossas possíveis convergências, novas<br />

possibilidades de diálogo, conhecimento e reconhecimento, bem como formas alter<strong>na</strong>tivas<br />

de convivência, permanentemente críticas em relação ao existente.<br />

Ora, como não existem discursos adâmicos, aqueles inspirados <strong>na</strong> ideologia<br />

multiculturalista liberal também são interpelados por formulações de outros repertórios.<br />

É o caso quando tais liberais dizem que somos todos iguais em direitos e<br />

oportunidades, enquanto “seres humanos”. Pareceria razoável se não ficasse ancorada<br />

em um sistemático esquecimento de se criticarem as relações de forças e as lógicas<br />

opressivas que impedem que essa igualdade se traduza em algo mais, fazendo com<br />

que a ação tenda a ficar presa ao atoleiro das boas intenções – tão apaziguadoras e<br />

bem ao gosto dos bem-pensantes. Ao lado disso, um refrão costuma acompanhar o<br />

137 Freud (1930 [1987b: 81-171]) desenvolveu a noção de “<strong>na</strong>rcisismo das peque<strong>na</strong>s diferenças” ao perceber<br />

que é sempre possível unir um número considerável de pessoas “no amor”, desde que restem outras para<br />

receber as manifestações de sua agressividade. Com essa noção, ele procurou explicar a hostilidade e<br />

o ódio existentes entre grupos muito próximos, diferenciados ape<strong>na</strong>s por peque<strong>na</strong>s diferenças. Este <strong>na</strong>rcisismo<br />

não tolera, especialmente, a manifestação das diferenças dentro do próprio grupo (das minorias<br />

dentro das minorias) e tampouco daquelas próximas a ele, por menor que sejam. Tais diferenças são consideradas<br />

uma crítica ameaçadora, e odiá-las passa a ser a maneira encontrada para (re)afirmar a própria<br />

identidade. Nesse caso, a agressão ao “outro” tor<strong>na</strong>-se a base da criação de uma auto-imagem encantada<br />

e da consolidação dos vínculos e do estilo de vida que os setores domi<strong>na</strong>ntes do grupo não pretendem<br />

ver questio<strong>na</strong>dos.<br />

138 E insisto: sem fetichizá-la; sem transformá-la em desigualdade; sem resvalar para a celebração identitária<br />

a-histórica, essencialista, diferencialista, <strong>na</strong>rcísica e isolacionista; sem abando<strong>na</strong>r o exercício da crítica das<br />

relações de forças envolvidas; sem excluir possibilidades de semelhanças, ambigüidades, convergências<br />

ou sínteses entre “diferenças culturais”; sem abando<strong>na</strong>r políticas redistributivas.<br />

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