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Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

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emocio<strong>na</strong>l e socialmente. Mas por que chegamos a esse absurdo paradoxo? Por que<br />

reconhecemos que conviver com a diversidade é salutar se, ao mesmo tempo, há<br />

tanta resistência em assumirmos nossa condição desigual?<br />

Sabemos que o conceito de normalidade é social e historicamente constituído.<br />

O que é considerado normal em nossa sociedade não o é, ou nem sempre o foi,<br />

para outras; o que foi considerado anormal em outros momentos passados não o é<br />

atualmente, e vive-versa. O que é tido como normal numa dada região no Brasil,<br />

por exemplo, não o é em outras. Parece difícil definir teoricamente o que significam<br />

os termos normal e patológico. No entanto, ao mesmo tempo em que nos parece<br />

tão difícil definir o que é “normal” conceitualmente, nos parece fácil atribuir a palavra<br />

“normal” a um conjunto de padrões ideologicamente retratados em uma dada<br />

cultura, como se este mesmo padrão fosse imutável e inquestionável, ou tivesse para<br />

nós um sentido prático irretocável.<br />

Uma análise mais detida dessa problemática exige deslocar a discussão para temas<br />

não imediatamente implicados, como a questão da relação entre a <strong>sexual</strong>idade, as<br />

deficiências e os padrões de normalidade operantes <strong>na</strong> cultura em um dado momento.<br />

1. A normalidade e a <strong>sexual</strong>idade<br />

O que é normal em <strong>sexual</strong>idade huma<strong>na</strong>? Embora pareça fácil categorizar e<br />

diferençar comportamentos normais dos comportamentos considerados não-normais<br />

em relação às manifestações sexuais, a definição para esta questão, sem dúvida,<br />

é intrinsecamente ambígua e complexa.<br />

Repetidamente tenho ouvido de pais, educadores/as e adolescentes este questio<strong>na</strong>mento:<br />

“É normal fazer isso?”; “É normal desejar isso?”, “É normal ser isso?”. Parece<br />

que ao fazer esse tipo de questão, relativa às concepções de normalidade quanto<br />

aos desejos, às práticas e às condições sexuais, as pessoas que perguntam projetam,<br />

em relação ao profissio<strong>na</strong>l, o poder – ainda que ilusório, claro – de livrá-las da<br />

responsabilidade relacio<strong>na</strong>da às escolhas que inevitavelmente elas mesmas têm de<br />

fazer nesse campo. A ciência, no meu caso a Psicologia, esclareceria o que é normal<br />

e, portanto, permitiria aos ouvintes sentir, fazer e desejar somente aquilo que fosse<br />

condizente com os, supostamente estabelecidos, padrões de normalidade. Quero<br />

dizer com isto que os sujeitos se sentem livres para realizar o que desejam quando<br />

esse desejo corresponde aos parâmetros normativos presentes no discurso científico,<br />

mas não se discute ou não se problematiza o fato de que a dimensão normativa é<br />

intrínseca aos saberes da própria ciência, ou seja, ela não é neutra nem alheia às<br />

demandas histórico-sociais que medeiam os fins que dirigem sua ação.<br />

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