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Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

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ções, ao mesmo tempo, invisibilizam outras formas de exercício da maternidade e<br />

da paternidade que também coexistem nesses contextos. Essa operação produz, por<br />

um lado, o posicio<strong>na</strong>mento do Estado no lugar de autoridade conferido ao pai-provedor<br />

<strong>na</strong> família mononuclear moder<strong>na</strong> e, por outro, a sobreposição de uma parte<br />

significativa dos deveres até então definidos como “paternos” (sobretudo aqueles<br />

vinculados ao provimento do lar) aos já consagrados “deveres maternos”.<br />

Mas também a escola continua sendo um espaço importante para observar<br />

e discutir articulações entre corpo, gênero e <strong>sexual</strong>idade do ponto de vista das relações<br />

de poder. Caberia então perguntar, por exemplo: em que medida normas de<br />

comportamento e práticas corporais vigentes no espaço escolar estão implicadas <strong>na</strong><br />

produção de diferenças e desigualdades de gênero potencialmente violentas?<br />

Ilea<strong>na</strong> Wenetz ( 00 : ) problematizou algumas dessas relações no recreio<br />

escolar e descreve, com três exemplos, como agressões físicas e verbais são<br />

utilizadas como recurso ou estratégia para (re)estabelecer, reiterar e subverter relações<br />

de poder de gênero nesse espaço. Pedro, que faz balé no seu bairro <strong>na</strong><br />

parte da tarde, <strong>na</strong> escola só brinca de futebol. Como ele é um menino “que faz<br />

as coisas que um menino deveria fazer”, ninguém implica com ele, apesar de os<br />

outros meninos saberem que ele faz balé. João, menino que brinca com um grupo<br />

de meni<strong>na</strong>s, é chamado de “bicha” por vários dos/as colegas. Ele não brinca de<br />

futebol e nem de “lutinhas”, classificadas como coisas de um menino que se preza<br />

e, mesmo que suas práticas sexuais estrito senso não estejam em questão aqui, é a<br />

adjetivação de sua <strong>sexual</strong>idade que funcio<strong>na</strong> como recurso para posicioná-lo como<br />

masculino desviante. No terceiro caso, uma meni<strong>na</strong> brinca só com meninos e joga<br />

futebol. Sua “transgressão” parece ser menos pe<strong>na</strong>lizada, pois, segundo algumas<br />

colegas, só às vezes os meninos pegam no pé dela, que ela é meio menino [...] que ela<br />

tem jeito de menino, até a voz dela parece de ‘menino’, ela quer jogar bola e nunca vai<br />

brincar com as meni<strong>na</strong>s de pular corda. Os dois últimos exemplos permitem uma<br />

reflexão que é, no mínimo, interessante, uma vez que ela desarranja tanto a fixidez<br />

da feminilidade e da masculinidade apresentadas com artigo definido singular (a<br />

meni<strong>na</strong> e o menino), quanto a <strong>na</strong>rrativa hegemônica da domi<strong>na</strong>ção masculi<strong>na</strong> e<br />

da subordi<strong>na</strong>ção femini<strong>na</strong> per se, um desarranjo que também vem sendo visibilizado<br />

em outras dissertações, qual seja, a de que as redes de vigilância e controle<br />

do gênero e da <strong>sexual</strong>idade parecem estreitar-se mais, contemporaneamente, em<br />

torno dos corpos masculinos quando se trata de cruzamentos ou borramentos de<br />

fronteiras historicamente instituídas para a masculinidade heteros<strong>sexual</strong>.<br />

6 Ilea<strong>na</strong> Wenetz fez sua dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento<br />

Humano, <strong>na</strong> UFRGS, sob orientação do professor Marco Paulo Stigger e minha co-orientação.<br />

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