14.04.2013 Views

Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

É recente a crítica teórica e o combate político ao preconceito em torno da<br />

homos<strong>sexual</strong>idade. É a partir dos anos 0, e sobretudo depois dos anos 70 do século<br />

XX, que se inicia a formulação crítica, apoiada <strong>na</strong> antropologia e <strong>na</strong> história, opondo-se<br />

ao discurso até então domi<strong>na</strong>nte – mesmo no chamado meio científico – que<br />

apontava o caráter patológico, margi<strong>na</strong>l e desviante da homos<strong>sexual</strong>idade.<br />

Como um produto dessa visão que a priori entende a homos<strong>sexual</strong>idade como<br />

um desvio a explicar, <strong>na</strong>scem as “pesquisas” determi<strong>na</strong>das a desvendar a causa específica<br />

da homos<strong>sexual</strong>idade – e desde já, anote-se, específica porque, no preconceito, os<br />

homossexuais constituem uma “espécie à parte”, é o chamado “terceiro sexo”... não<br />

é o específico “o que é próprio de uma espécie”? Como veremos, a procura da causa<br />

particular (ou causas) da homos<strong>sexual</strong>idade revela mais os preconceitos de quem<br />

fala do assunto do que alguma coisa sobre o “fenômeno” pretensamente estudado. A<br />

pergunta que poderíamos fazer é: por que razão se procura a gênese da homos<strong>sexual</strong>idade<br />

e não se procura, <strong>na</strong> mesma medida, a gênese da heteros<strong>sexual</strong>idade? Por que<br />

todo um conjunto de estudos e tratados sobre a origem da homos<strong>sexual</strong>idade?<br />

Não se tor<strong>na</strong> possível compreender o que estas questões envolvem se não<br />

consideramos o processo de colonização do imaginário de nossas sociedades pelo preconceito,<br />

que foi tomando a forma de “explicações” e “teorias” sempre mais aceitas.<br />

No limite deste artigo, contudo, estaremos ape<strong>na</strong>s nos ocupando de nossa intenção<br />

central, sabendo-se que bom número de estudiosos se encarregou de levantar os<br />

elementos históricos que, <strong>na</strong>s nossas sociedades, produziram, em relação ao <strong>sexual</strong>,<br />

uma <strong>educação</strong> moralizante, uma teia simbólica de culpabilizações e punições, dispositivos<br />

de regulação e discipli<strong>na</strong> (FOUCAULT, 977; 979; BROWN, 990; LA-<br />

QUEUR, 00 ; BOSWELL, s/d.) – elementos entre os quais o preconceito (sob<br />

diversas formas) pôde sempre ser percebido exercendo ação destacada.<br />

É importante ressaltar que, no longo processo de colonização do imaginário<br />

de nossas sociedades, ganhou força uma concepção que corresponderia a uma <strong>na</strong>turalização<br />

da <strong>sexual</strong>idade huma<strong>na</strong>, cujo efeito mais destacado é ter criado a idéia<br />

segundo a qual a heteros<strong>sexual</strong>idade seria i<strong>na</strong>ta (a <strong>na</strong>tureza daria os exemplos em<br />

todas as espécies), sendo então <strong>na</strong>tural e normal, e a homos<strong>sexual</strong>idade seria uma<br />

tendência adquirida, nem <strong>na</strong>tural nem normal. Indo da opinião popular a pretensas<br />

visões científicas, essa idéia da heteros<strong>sexual</strong>idade como i<strong>na</strong>ta, constituída <strong>na</strong><br />

<strong>na</strong>tureza das espécies e, assim, igualmente <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza animal da espécie huma<strong>na</strong>,<br />

tor<strong>na</strong>ria sem razão de ser qualquer questão sobre sua origem. É dessa concepção<br />

<strong>na</strong>turalizadora da <strong>sexual</strong>idade que decorre igualmente a idéia segundo a qual nos<br />

cromossomos e nos hormônios estariam pré-fixadas as essências masculi<strong>na</strong> e femini<strong>na</strong><br />

que marcariam o desejo <strong>sexual</strong> e o destino social de homens e mulheres. A<br />

99

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!