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VIII. Comunidades portuguesas dos Estados Unidos

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<strong>VIII</strong> COMUNIDADES PORTUGUESAS NOS ESTADOS UNIDOS...<br />

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Actualmente, as associações comunitárias passaram a envolver-se mais em<br />

ini ciativas de carácter social, político e até cultural. Divisões bairristas,<br />

comuns até à década de setenta, quase desapareceram. Gera-se uma espécie<br />

de estabilidade no seio das comunidades, onde o brio étnico ganha confian -<br />

ça e desenvolve um certo à-vontade no meio americano que o aceita mais<br />

facilmente, pelo menos reconhecendo que as comunidades <strong>portuguesas</strong> não<br />

são fonte de problemas graves, como acontece com outras.<br />

Antes de passar ao quarto período, farei uma breve digressão para narrar um<br />

epi sódio relacionado com o que atrás afirmei sobre o brio étnico que leva a<br />

actual camada de imigrantes a manter os sobrenomes portugueses.<br />

Causou-me sempre espécie o facto de encontrar nas listas telefónicas de Fall<br />

River, New Bedford e Providence o nome Enos (com o). A princípio julguei<br />

tra tar-se de mais um erro de ortografia, possivelmente por culpa do burocrata<br />

<strong>dos</strong> serviços de emigração, como aconteceu com Cardoza, Oliviera, Viera,<br />

Ferriera, Mediros, entre tantos outros. A minha surpresa surgiu quan do descobri<br />

que as famílias que conheci com esse nome eram de origem micaelense.<br />

Ora, em São Miguel, «Enes» não é um nome vulgar e nem sei mesmo<br />

se existe. Conheço-o na Terceira, no Pico e em São Jorge, mas não em<br />

São Miguel. Há meses, numa conferência da série que o Departamento de<br />

Estu<strong>dos</strong> Portugueses e Brasileiros da Universidade de Brown promoveu sobre<br />

a história da presença portuguesa nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, encontrei um luso-<br />

-americano reformado (engenheiro, esteve destacado na base aérea das Lajes<br />

na década de 50), que dedica muito do seu tempo livre a investigar vestígios<br />

da presença portuguesa na América do Norte. A propósito, referi-me de passagem<br />

ao facto de os portugueses já não mudarem de apelido, como faziam<br />

antigamente, muitas vezes a seu próprio pedido. «Não é verda de!» – reagiu o<br />

senhor Amaral. «Ainda há meses chegou aqui uma família de São Miguel, e<br />

os familiares, que já cá estão há muitas décadas, disseram-lhes que deveriam<br />

mudar o apelido, porque em inglês o que correspondia ao seu apelido português<br />

era “Enos”». Perguntei então ao meu interlocutor: «E qual era o apelido<br />

português dessa família?» «Inácio» – respondeu-me.<br />

Caí em mim e naquele momento resolveu-se-me o mistério: «Enos» deveria<br />

ser nada mais nada menos do que a transcrição fonética de «Inácio» pronun -<br />

ciado à micaelense «Inóce», que terá naturalmente sido como o funcionário<br />

da imigração americana há muitos anos registou por escrito o som que lhe

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