VIII. Comunidades portuguesas dos Estados Unidos
VIII. Comunidades portuguesas dos Estados Unidos
VIII. Comunidades portuguesas dos Estados Unidos
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>VIII</strong> COMUNIDADES PORTUGUESAS NOS ESTADOS UNIDOS...<br />
362<br />
caso <strong>dos</strong> que escolheram os EUA, em Fall River ou New Bedford, foram en -<br />
volver-se num ambiente em que existia bem estabelecida uma rede portuguesa<br />
de contactos de toda a ordem. No caso do trabalho, aprende mais<br />
inglês o emigrante que tem de lidar com americanos ou canadianos do que<br />
aquele que trabalha de parceria com outros emigrantes portugueses, ou<br />
mesmo com emigrantes de outras etnias, que se encontram na mesma situação<br />
em relação ao inglês. Aprendem naturalmente menos aqueles que lidam<br />
mais com máquinas ou os que trabalham no sector agrário – como é o caso<br />
de muitos <strong>dos</strong> emigrantes da Terceira e de São Jorge no vale de San Joa quin,<br />
na Califórnia – ou os emigrantes que trabalham nas linhas férreas no<br />
imenso despovoado do Norte do Canadá. Um caso que costumo utilizar<br />
como paradigmático é o de dois irmãos de uma freguesia de São Miguel, emigra<strong>dos</strong><br />
mais ou menos na mesma altura e com idêntico nível de instrução.<br />
Um foi viver para Fall River, Massachusetts, cidade predominantemente portuguesa<br />
e micaelense. Ao fim de vinte anos, quase não fala inglês e o pou co<br />
que fala é muito estropiado. O outro foi viver para a Bermuda onde, apesar<br />
da pequenez da ilha, os portugueses, na sua maior parte, vivem isola<strong>dos</strong> uns<br />
<strong>dos</strong> outros, trabalhando como vinhateiros ou caseiros de famílias lo cais com<br />
quem têm de contactar e comunicar diariamente 42 . Emigrado sensi velmente<br />
há vinte anos também, fala um inglês com alguma qualidade. Ne nhum deles<br />
o estudou formalmente numa escola, nem em qualquer progra ma de aprendi<br />
zagem da língua que os governos costumam oferecer aos emigrantes.<br />
Uma outra variável a afectar o nível de aquisição da nova língua é o grau de<br />
prévia instrução da pessoa. Naturalmente que, quanto mais instruída, mais<br />
facilidade terá na aprendizagem, embora isso apenas reduza os efeitos <strong>dos</strong><br />
outros factores. Estou a lembrar-me do caso específico de um professor primário<br />
em Portugal que evitou sempre falar inglês, por não querer sentir-se<br />
diminuído diante de pessoas menos cultas que já falavam melhor o inglês,<br />
ainda que isso fosse explicável pelo facto de terem emigrado há mais tempo.<br />
Ao fim de vinte anos, esse professor primário voltou aos Açores sem pratica -<br />
mente saber inglês. É um caso extremo, mas o fenómeno que ele representa<br />
é real e acontece com diversos graus de intensidade.<br />
Uma terceira variável ou, se preferirem, um terceiro factor condicionante da<br />
aprendizagem de uma segunda língua num país estrangeiro, é a idade. Em<br />
termos genéricos, e de novo sem pôr de lado todas as outras variáveis, poder-<br />
-se-ia estabelecer como regra geral que o nível de aprendizagem de uma