VIII. Comunidades portuguesas dos Estados Unidos
VIII. Comunidades portuguesas dos Estados Unidos
VIII. Comunidades portuguesas dos Estados Unidos
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
403<br />
Onésimo Teotónio de Almeida<br />
Um outro aspecto importante a notar aqui é o de essas estruturas culturais profundas constituírem<br />
um todo que não compartilhado igualmente por cada um <strong>dos</strong> membros desse grupo<br />
cultural. Cada pessoa participa da maioria deles, mas os diversos elementos de uma cultura<br />
estão presentes com intensidades diferentes em cada uma delas. É por isso que um indivíduo<br />
pode mudar de religião, ou alterar quase radicalmente os seus hábitos numa ou noutra<br />
área da sua vida. O que, em geral, não acontece é alterar radicalmente a sua maneira de ser<br />
em relação a todas as suas estruturas culturais profundas. E ainda que seja possível a um indivíduo<br />
ou outro operar essa transformação, o que nunca acontece é uma cultura inteira fazer<br />
isso. Para tal, seriam precisos séculos. Mas isso é tema para outro livro.<br />
51 Especificamente, sobre o conceito de açorianidade e cuida<strong>dos</strong> a ter com quejan<strong>dos</strong> termos<br />
abstractos, veja-se o meu «Açorianidade: equívocos estéticos e éticos», in O. T. ALMEIDA (org.),<br />
Da Literatura Açoriana – Subsídios para um Balanço (Angra do Heroísmo, Direcção Regional<br />
<strong>dos</strong> Assuntos Culturais/Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1986).<br />
52 Uma nota a propósito: Em tempos, participei num congresso em Trier, na Alemanha. Do<br />
programa fazia parte uma comunicação do professor David Jackson, da Yale University,<br />
sobre os resquícios da música portuguesa ainda hoje existentes na Índia. O auditório embeveceu-se<br />
e quase se comoveu mesmo com a gravação de canções, cantadas por velhinhos,<br />
onde, às vezes, quase nem se conseguia decifrar uma palavra portuguesa. Nesse mesmo dia,<br />
após o jantar, houve uma outra sessão de fa<strong>dos</strong> por um tal Telmo Pires, alemão de nascença,<br />
filho de emigrantes portugueses. Excelente intérprete, o artista era alemão a procurar interpretar<br />
e explicar para os seus patrícios o fado, esse género musical tão querido de seus pais.<br />
Um catedrático português, que aplaudira a música indo-portuguesa de manhã, abandonou<br />
a sala entediado e farto daquelas interpretações que classificou de «não-autênticas». Achei a<br />
atitude curiosíssima e nada isolada. Ela era mesmo um ex-libris de uma generalizada atitude<br />
portuguesa face à imigração: a miscigenização cultural de Quinhentos é uma glória nacional<br />
que reclamamos; a hibridização natural <strong>dos</strong> emigrantes de hoje nos países de acolhimento é<br />
olhada com desdém.<br />
53 (Porto, Renascença Portuguesa, 1929), p. 14.<br />
54 Ver também o meu «Identidade Cultural: conflitos solúveis e insolúveis», in Eduardo<br />
Mayone DIAS (org.), Portugueses na América do Norte (Lisboa, Peregrinação, 1985), pp. 41-55,<br />
bem como vários <strong>dos</strong> textos reuni<strong>dos</strong> em L(USA)lândia – A Décima Ilha.<br />
55 Diário de Notícias, 22/11/1987.<br />
56 Sobre a linguagem luso-americana, o lugar clássico é: Leo Pap, Portuguese-American Speech:<br />
An Outline of Speech-Conditions among Portuguese immigrants in New England and elsewhere<br />
in the United States, Nova Iorque, King’s Crown Press, 1949. Ver também Henry R. LANG<br />
(1887-89): «Fallar português de New Bedford», in Revista Lusitana, Arquivo de estu<strong>dos</strong> filológicos<br />
e etnográficos, vol. I (1887-89), pp. 378-9; George MONTEIRO, «The Portuguese element<br />
in New England by Henry R. Lang: Notes from another century», in Revista de Etno -<br />
grafia, 13 (Oct. 1969), pp. 339-52: Francisco Cota FAGUNDES, «O falar luso-americano: Um<br />
índice de aculturação», in First Symposium on Portuguese Presence in Califórnia (San Leandro,<br />
CA, UPEC Cultural Center/Luso-American Education Foundation, 1974), pp. 8-17; e ainda<br />
Eduardo Mayone DIAS, «Subsídios para um glossário de luso-americanismos», no seu Aço ria -<br />
nos na Ca lifórnia (Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura/Direcção