VIII. Comunidades portuguesas dos Estados Unidos
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Onésimo Teotónio de Almeida<br />
nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> cifra-se acima do milhão de emigrantes. Não são<br />
mais nota<strong>dos</strong> devido ao estatuto de ilegalidade de apreciável número<br />
deles, bem como por se terem dispersado largamente pelo país. Excepto<br />
em casos pontuais nalgumas comunidades específicas, não são significativos<br />
os contactos entre as comunidades <strong>portuguesas</strong> tradicionalmente<br />
estabelecidas e as novas comunidades brasileiras.<br />
Costuma apontar-se a comunidade italo-americana como o exemplo mais<br />
pró ximo da portuguesa por, como aquela, ser europeia do Sul, católica e re -<br />
lativamente recente. Se bem que a italiana seja obviamente maior, mais concentrada<br />
em grandes cidades e com, pelo menos, duas gerações à frente da<br />
portuguesa em termos de aculturação e assimilação. No caso da emigração<br />
italiana, as comunidades <strong>dos</strong> anos vinte não foram reforçadas com grandes<br />
contingentes de novos emigrantes, como aconteceu com as <strong>portuguesas</strong> no<br />
último terço do século XX. Mesmo assim, é instrutivo consultar os estu<strong>dos</strong><br />
sobre ela, pois fornecem-nos pistas reveladoras sobre as previsíveis etapas fu -<br />
turas das comunidades <strong>portuguesas</strong>, se bem que essa tarefa ultrapasse as di -<br />
mensões deste já extenso trabalho 96 . A longo prazo, será inevitável a acultura<br />
ção e assimilação pelo mainstream americano, mas isso acontecerá mais<br />
facilmente nas comunidades pequenas ou entre os portugueses que se disper<br />
saram pelo país. As comunidades concentradas no Sudeste da Nova In -<br />
glaterra deverão perdurar por muito tempo, mesmo para além da sobrevivência<br />
da língua portuguesa como veículo comum de comunicação, como<br />
ainda acontece com os emigrantes, incluindo os naturaliza<strong>dos</strong>. O inevitável<br />
desaparecimento do Português como primeira língua nas gerações nascidas<br />
já nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> não fará por si só desaparecer as marcas culturais das<br />
comunidades. O Português continuará a ser ensinado como segunda língua<br />
nas escolas e nas universidades, sendo natural até que surja reforçado, sobretudo<br />
no Ensino Superior. As demais marcas culturais, da gastronomia às<br />
manifestações religiosas, permanecerão por muito mais tempo graças, por<br />
um lado, à resistência ancestral a determinadas mudanças e à profundidade<br />
de muitas convicções herdadas de longínqua data e, por outro, à continuada<br />
atitude do mainstream americano de abertura à diferença cultural, apesar de<br />
um certo fechamento autodefensivo após o 11 de Setembro. Aliás, essa atitude<br />
de autodefesa não afecta propriamente os portugueses, nem a sua vida<br />
comunitária.