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VIII. Comunidades portuguesas dos Estados Unidos

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<strong>VIII</strong> COMUNIDADES PORTUGUESAS NOS ESTADOS UNIDOS...<br />

364<br />

Quando digo «casa», quem me ouve não ouve apenas um som. Também vi -<br />

sua liza na sua mente uma determinada imagem de «casa». Essa imagem, for -<br />

mou-se no cérebro a partir de sucessivas experiências na retina de realidades<br />

designadas por casas. Assim, a imagem que um português faz de «casa» não<br />

é exactamente a que faz um esquimó ou um negro numa floresta africana. A<br />

ima gem que cada um forma resulta da sobreposição de imagens da experiência.<br />

Nalguns casos, ela resulta não tanto de uma média abstraída pelo<br />

cérebro, mas de uma imagem particular, ou conjunto de imagens, que por<br />

qualquer razão impressionaram mais fortemente o cérebro. De qualquer<br />

modo, o mundo a que se referem as palavras é mais importante do que elas.<br />

A diferença entre dizer-se «casa», em português, «maison», em francês ou<br />

«house», em inglês é, no fundo, insignificante. O importante é a imagem particularizada<br />

da realidade «casa» que cada indivíduo experimenta diferentemen<br />

te. O mesmo se diga de «avó» e «grandmother», «mar» e «sea», «ilha» e<br />

«island». Quer dizer, as palavras são apenas a ponta do icebergue que assoma<br />

à superfície da água, enquanto a maior parte dele não se vê, pois está submersa<br />

no inconsciente 47 .<br />

Fiz atrás uma afirmação que carece de um pequeno desenvolvimento. Falei<br />

da intensidade especial de certas imagens no cérebro das pessoas. Ora, ela<br />

acontece sobretudo na infância e na adolescência. São as primeiras imagens<br />

a serem registadas pelo cérebro, e impressionam-no tão fortemente que<br />

acabam por estabelecer com ele uma relação afectiva. Ou seja, nós começamos<br />

a habituar-nos a essas experiências e gradualmente se vai desenvolvendo<br />

em nós afectividade em relação a elas. É isso que se passa com a família, com<br />

as pessoas amigas, com a nossa casa e com a terra onde nascemos. Mas acontece<br />

também com a língua que falamos, a música que escutamos, os cheiros<br />

e a paisagem a que nos acostumamos e até com a religião em que nos criámos.<br />

Regra geral, to<strong>dos</strong> esses elementos se entrelaçam num conjunto mais<br />

ou menos organizado da experiência, a que nos vamos habituando e pelos<br />

quais desenvolvemos gosto. Mais ainda, essas experiências passam a constituir<br />

a medida-padrão que nos servirá para aferirmos a nossa relação afectiva<br />

com as outras experiências novas. Quanto mais tempo estivermos expostos a<br />

esse complexo de da<strong>dos</strong> adquiri<strong>dos</strong> empiricamente, a que chamamos «cultura»,<br />

mais profunda será a sua marca em nós. Parece mesmo que algo de<br />

idên tico se passa com a língua em relação à pronúncia. Até à puberdade, o<br />

carimbo da cultura em que nascemos marca de alguma maneira para sempre<br />

o nosso cérebro. A partir de então, quanto mais tarde se sai dessa cultura

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