VIII. Comunidades portuguesas dos Estados Unidos

357
Onésimo Teotónio de Almeida
Há ainda muitas ilhotas dispersas através da Nova Inglaterra, de Nova
Iorque e da Pensilvânia, nas quais a população é oriunda em especial do continente
português. A reter a circunstância de esta se ter misturado com os
falantes de Português dos países africanos de língua portuguesa. Acresce que,
neste mapa, devem ser incluídos os novos habitantes da Florida, centenas,
senão mesmo milhares de portugueses vindos de toda a parte, que estão
agora a viver ali, a maioria dos quais reformada. Assim sendo, aqui, referir-
-me-ei a todas estas terras como um arquipélago, o qual, infelizmente, foi
feito de ilhas demasiado separadas entre si e também sem grande contacto.
As distâncias são, indubitavelmente, significativas. Os açorianos da Cali fór -
nia estão muitíssimo mais distantes dos da Nova Inglaterra do que os Açores
estão de Boston. Na verdade, os portugueses do Canadá encontram-se bastante
próximos e têm um contacto mais estreito com os seus compatriotas
da Nova Inglaterra.
Costumo dizer que, se fosse possível observar, num computador, o trânsito
au tomóvel na Interestatal 90, entre Boston e Albany e depois Toronto,
encontrar-se-ia uma linha contínua. Sobretudo, nos fins-de-semana, quando
há sempre uma festa, um casamento, um baptizado, um funeral, ou algum
acontecimento familiar, a reunir essas comunidades portuguesas divididas
da Nova Inglaterra e do Canadá. Com efeito, estão muito mais próximas do
que as da Califórnia, por isso, as dificuldades para se unirem passam por en -
curtar estas imensas distâncias geográficas. Quanto a New Jersey, é um
mundo só por si.
Ignoro como seriam estas «ilhas» pelos anos de 1800, mas posso imaginar.
Se ainda hoje posso denominá-las «ilhas», imagine-se como seriam quando a
América era inglesa e protestante até ao âmago, apesar do chá descarregado
no porto de Boston. A minha avó foi baptizada em Foxpoint, Providence,
um território em boa parte português, com uma comunidade que, por volta
de 1870, se podia dar ao luxo de construir uma igreja imensa, tal como
os seus compatriotas, em Nova Bedford, haviam construído a Igreja de
São João Baptista, e os irmãos de Fall River tinham construído a de Santo
Cristo, além de mais seis 34 .
A antropóloga Estellie Smith, cuja origem ninguém adivinharia ser meio-
-luso-americana, chamou-nos «a minoria invisível» 35 . Invisível, porém,
jamais significou fraca. Nós somos sossegados, mas inflexíveis nos nossos