VIII. Comunidades portuguesas dos Estados Unidos
VIII. Comunidades portuguesas dos Estados Unidos
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<strong>VIII</strong> COMUNIDADES PORTUGUESAS NOS ESTADOS UNIDOS...<br />
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ram. Mas isso aconteceu sempre. Já Nápoles foi assim chamada pelos gregos<br />
da diáspora, que a fundaram com o nome de Nea-pólis, Cidade Nova.<br />
Porque crescemos num mundo, esse mundo passa a ser parte de nós mes -<br />
mos. Emigrar é romper com esse mundo. Daí que, ao voltarem, se reintegrem<br />
quase sem problemas aqueles que saíram já adultos e de gostos forma<strong>dos</strong>.<br />
E digo «quase», porque o mundo a que regressam os emigrantes já não<br />
é o mesmo que deixaram. Não vivem ou não estão lá muitas das pessoas que<br />
o povoavam, e algumas outras coisas, pelo menos, mudaram. Além disso,<br />
ainda que superficialmente, no imigrante algo mudou também. O novo<br />
mun do passou, de algum modo, a fazer parte dele e daí o relativo desajustamento<br />
do regresso. Mas, no fundo, tal como notara Vitorino Nemésio, a<br />
pro pósito <strong>dos</strong> terceirenses emigra<strong>dos</strong> que ele conheceu, eles são ainda os<br />
mes mos, porque as estruturas profundas da sua mente não foram alteradas.<br />
Várias vezes se tem apontado como diferente o exemplo <strong>dos</strong> retorna<strong>dos</strong>.<br />
Apro veito para estabelecer os parâmetros <strong>dos</strong> dois tipos, a fim de captarmos<br />
melhor as divergências de actuação. Em primeiro lugar, o emigrante regressado<br />
não se deu bem na terra para onde emigrara, sinal de que mudou<br />
pouco e se adaptará melhor ao status quo da sociedade de onde partiu. O<br />
retornado adaptara-se. Porque fora para sociedades de cultura e língua portuguesa,<br />
estabelecera-se e circulara à vontade nas estruturas, integrado nas<br />
classes média e média-alta dessas sociedades. Alargara os horizontes, habituara-se<br />
a uma mentalidade nova e a um espaço de onde teria preferido não<br />
sair. Evoluíra no meio que ele próprio havia ajudado a desenvolver. Depois,<br />
ao voltar à terra, porque perdeu quase tudo e estava ainda em idade altamente<br />
produtiva, não teve outro remédio para sobreviver senão investir no<br />
que ainda possuía: os seus conhecimentos e a sua experiência. Daí, pois, as<br />
grandes diferenças de actuação notadas nesses dois grupos de regressa<strong>dos</strong>.<br />
Curiosamente, um viajante continental nos Açores apercebeu-se desta realidade,<br />
aquando de uma passagem pela Terceira nos anos de quarenta do<br />
século passado. Ressalvada a linguagem própria da época, vale a pena registar-lhe<br />
as observações:<br />
«Os açorianos trocam facilmente a sua terra natal pela acariciante e rica<br />
Amé rica do Norte, onde recebem guarida e protecção fartamente acolhedoras.<br />
(…) Só os que não souberam criar fortuna é que regressam de vez, com a