Suênio - pos-graduacao - Uepb
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2. Utopia e distopia no mundo literário<br />
O tempo das utopias não acabou? A época é de duro realismo, para não dizer<br />
desesperança. Os povos parecem não ter mais projetos grandiosos, que são até<br />
mesmo rejeitados. Além disso, ninguém ou quase ninguém mais escreve utopia,<br />
descrevendo de maneira romanesca uma cidade feliz, de harmonia e justiça, que<br />
<strong>pos</strong>sa funcionar como horizonte. Em seu lugar aparecem as antiutopias, que<br />
mostram um mundo frio, desumano, robotizado, em suma, um mundo em que é<br />
absolutamente im<strong>pos</strong>sível viver, como conseqüência necessária de um domínio<br />
absoluto do devir humano. Decididamente, querer a perfeição numa sociedade<br />
terrestre parece hoje uma aberração que só pode levar à catástrofe. Isso é<br />
aceitável? Uma sociedade pode não somente progredir mas mesmo simplesmente<br />
existir sem utopia?<br />
Jean-Yves Lacroix, 1996, p. 21<br />
Refletindo sobre o pensamento de Lacroix, constatamos que uma<br />
sociedade não pode progredir sem a existência da utopia, pois a<br />
imaginação utópica é uma característica inerentemente humana. De<br />
modo que sem ela, assim como sem a esperança, o sonho e o desejo, o<br />
ser humano não é capaz de viver ou sobreviver em um mundo como o<br />
nosso. Neste caso, a construção de mundos imaginários, livres das<br />
dificuldades encontradas na vida real, é recorrente de uma forma ou de<br />
outra, em grande parte das culturas.<br />
De acordo com Coelho (1980, p. 82), é essa forma de imaginação “que até<br />
hoje pelo menos, sempre esteve presente nas sociedades humanas, apresentando-<br />
se como elemento de impulso das invenções, das descobertas, mas também das<br />
revoluções” (grifo do autor). Nas sociedades consideradas primitivas, os indícios da<br />
imaginação utópica encontram-se sob a forma de lendas e crenças que apontam<br />
para a existência de um lugar perfeito para se viver.<br />
Os mitos, por sua vez, sempre divulgaram que a felicidade não é <strong>pos</strong>sível<br />
nesse mundo, mas sim, em um tempo distante ou em um mundo além da morte. A<br />
exemplo disso, o mito da idade de ouro abordado pelos pensadores clássicos,<br />
Hesíodo, Platão, Virgílio e Ovídio, já descreviam modelos de estrutura social nos<br />
quais imperava a harmonia entre homem e natureza. Na idade áurea, a humanidade<br />
vivia em um estado de perfeita harmonia, sem motivos para guerra ou opressão.<br />
O pensamento religioso também foi responsável pela divulgação da<br />
imaginação utópica. Na tradição judaico-cristã, a Bíblia também faz referência a um<br />
lugar perfeito. Além da narrativa do Jardim do Éden, o livro sagrado cristão sempre