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Suênio - pos-graduacao - Uepb

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Anelise consegue engravidar pela quinta vez quando nasce Lauro, um<br />

homem em uma família de mulheres. Só que novamente ela “perde” no jogo, pois o<br />

menino, devido a um acidente na hora do parto, vem ao mundo com lesão cerebral<br />

vivendo até os dois anos de idade. “Então a traidora não era só a morte: era a vida<br />

também, a parceira, a outra bruxa soprando velas na noite” (p. 103). No reencontro<br />

com Otávio, Anelise desabafa toda sua desilusão: “[...] acreditei na vida, a<strong>pos</strong>tei mil<br />

vezes, perdi em todas [...] veio essa gravidez, esse filho. Esse filho!” (p. 115). Como<br />

a própria narradora enfatiza aqui, “esse filho” era a última esperança de conseguir<br />

contrariar seu malfadado destino.<br />

Essa análise da protagonista dura toda a semana e parece que as<br />

lembranças fazem de Anelise uma pessoa mais pessimista e revoltada. Na sexta-<br />

feira de sua estada no Chalé, aproximando-se do final de sua jornada, ela toma<br />

conhecimento da violência sofrida pelo menino Zico. O filho da caseira fora<br />

estuprado por uns jovens veranistas. A reação de Anelise demonstra todo seu<br />

desencanto com a distopia da vida:<br />

A náusea se arrasta pela minha garganta como um grande verme<br />

que morasse no meu estômago. No coração. Alguém traz água, luto<br />

para não desmaiar. Você era feliz, Nazaré? Sem complicação? [...]<br />

Me arrasto até o banheiro, vomito violentamente minha dor, minha<br />

revolta, água amarga e todo o lixo da vida (p. 110).<br />

Diante dos fatos, Anelise reconsidera sua opinião a respeito da vida da<br />

caseira. Alguns dias antes, ela observara que Nazaré, apesar da simplicidade,<br />

desfrutava de uma família grande, cheia de filhos, tranqüila e feliz. A violência que<br />

Zico sofrera descarta qualquer <strong>pos</strong>sibilidade de a narradora acreditar na vida sem<br />

dificuldades. O vômito simboliza todo o mal-estar que ela adquiriu ao longo de sua<br />

vida.<br />

O que era para ser um descanso tornou-se um grande martírio para Anelise.<br />

A revisão das lembranças deixou-a cansada e esgotada tanto mental quanto<br />

fisicamente. Desde o início da semana, ela está sem se alimentar normalmente: “Se<br />

continuar assim sem comer, entro em levitação” (p. 125). O jejum pode ser<br />

entendido como uma forma de purificação da alma durante esse processo de auto-<br />

investigação.<br />

No sábado, último dia de sua jornada em busca de tantas explicações,<br />

Anelise está mais solitária do que nunca. Nazaré continua no hospital com o filho, a

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