Suênio - pos-graduacao - Uepb
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chalice, an evil grail and I thought, Whatever it is, part of myself or a<br />
separate creature, I killed it. It wasn’t a child but it could have been<br />
one, I didn’t allow it (p. 143) (grifo do autor).<br />
A parte grifada desta citação resume o trauma do aborto na vida dessa<br />
personagem. A imagem do corpo visto emergindo do lago tem ligação direta com a<br />
descrição desse feto de quem ela impediu a vida. A narradora começa a lembrar de<br />
mais detalhes desse episódio. Ela recorda também como o procedimento do aborto<br />
foi feito e em que local: uma casa que cheirava a limão.<br />
A protagonista explica que, a experiência desse aborto representou para ela<br />
uma mutilação, uma dor terrível que, para ser abrandada, era necessário uma<br />
versão diferente que não lhe causasse tanto sofrimento:<br />
I couldn’t accept it, that mutilation, ruin I’d made, I needed a different<br />
version. I pieced it together the best way I could, flattening it,<br />
scrapbook, collage, pasting over the wrong parts. A faked album, the<br />
memories fraudulent as passports, but a paper house was better than<br />
none and I could almost live in it, I’d live in it until now (pp. 143-4).<br />
A narradora agora tem consciência de que criou um mundo falso onde viveu<br />
até o momento, após a experiência do mergulho no lago. Entretanto, tal ação<br />
representa um mergulho em si mesma, no seu interior, revelando assim toda sua<br />
subjetividade.<br />
No capítulo dezessete, além da confirmação do aborto, o leitor também<br />
descobre que a protagonista teve um relacionamento com um homem casado e por<br />
isso foi obrigada a não prosseguir com a gravidez. Ela narra que na ocasião seu<br />
amante não estava presente, pois estava com a família: “He hadn’t gone with me to<br />
the place where they did it; his own children, the real ones, were having a birthday<br />
party. But he came afterwards to collect me” (p. 144).<br />
Toda essa história a narradora guardou para si, sem comentar com ninguém.<br />
Nem a sincera Anna, que sempre confidencia com a protagonista suas angústias e<br />
sofrimento, teve o privilégio de saber do passado distópico da amiga. Apenas no<br />
momento em que Joe a pede em casamento, ela diz já ter sido casada e menciona<br />
rapidamente sobre um filho. Os pais da narradora, a quem ela preferiu poupar,<br />
nunca souberam os verdadeiros motivos da partida da filha. Ela justifica: “They were<br />
from another age, prehistoric, when everyone got married and had a family, children<br />
growing in the yard like sunflowers; [...]” (p. 144).