Suênio - pos-graduacao - Uepb
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Nessa fase da vida, Anelise e Vânia estão mais unidas. “A dor nos fazia<br />
irmãs” (p. 96). Esse é o comentário da narradora quando descobre o motivo de<br />
Vânia nunca ter tido filhos. Ela tinha prometido ao marido nunca engravidar, pois ele<br />
não queria arriscar ter um herdeiro que <strong>pos</strong>suísse o sangue daquela família<br />
distópica: avó louca, tia anã, avô “um velho porco”, como era chamado pelas filhas,<br />
o patriarca da família.<br />
Semelhante a Anna, personagem de Surfacing que sofre com as atitudes do<br />
marido, o casamento de Vânia era uma grande farsa. O marido a traía, inclusive com<br />
as próprias amigas da es<strong>pos</strong>a. Por trás daquele rosto bonito, e daquela<br />
independência que Anelise sempre admirou, habitava uma mulher solitária como<br />
todas as outras da família Sassen: “O rosto de Vânia, boneca perfeita, cuidando<br />
para não enrugar demais com o pranto escondido. As lágrimas abrindo caminho. Eu<br />
queria abraçar, cuidar. Mas não tínhamos dessas intimidades” (p. 41).<br />
A protagonista arrepende-se por não ter construído entre elas uma sólida<br />
relação de irmãs. Agora elas desabafam e partilham da mesma dor, entretanto, não<br />
expressam atitudes de afetos entre si, porque nunca fortaleceram os laços<br />
familiares.<br />
Como vimos neste subitem, o caráter distópico presente tanto em Surfacing<br />
quanto em As parceiras é atribuído aos relacionamentos humanos que dentro do<br />
“cenário liquído da vida moderna, [...] talvez sejam os representantes mais comuns,<br />
agudos, perturbadores e profundamente sentidos da ambivalência” (BAUMAN, 2004,<br />
p. 8). Assim, as protagonistas de ambos os romances simbolizam as contradições do<br />
mundo distópico que são geradas, a partir dos conflitos nas relações familiares e<br />
pessoais.<br />
A distopia da cultura também pode ser motivada pelos conflitos presentes<br />
nas relações de gênero. De forma semelhante, Atwood e Luft recriam, com a ajuda<br />
de suas personagens as assimetrias do mundo distópico em que o masculino oprime<br />
o feminino. Anna e Vânia são exemplos de mulheres que são vítimas de seus<br />
companheiros. Para essas personagens, o casamento, baseado em<br />
humilhações e traições, se configura como um pesadelo bem real e distópico.