Suênio - pos-graduacao - Uepb
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Para conseguir descobrir o motivo de tanto azar familiar e assim vencer o<br />
jogo, Anelise acredita no seguinte: “Se dou com a ponta errada do fio, se descubro o<br />
lance perverso da jogada, a peça de azar, quem sabe consigo sobreviver. Tenho<br />
tempo” (p. 16).<br />
No domingo, início do rito, ao chegar ao Chalé, Anelise começa sua “viagem<br />
psicológica”, lembrando de sua avó Catarina que ela considera a peça mais<br />
importante do jogo da vida. “Jogaram com ela um jogo sujo. Não podia mesmo<br />
agüentar” (p. 11) (grifo do autor). Sobre o jogo sujo ao qual a narradora refere-se,<br />
Xavier (1998, p. 66) sugere o seguinte:<br />
Catarina, [...], é vítima do jogo sujo da moral patriarcal; dada ainda<br />
muito jovem em casamento a um homem bem mais velho,<br />
condenada à maternidade precoce, numa aparente fatalidade<br />
biológica que mascara as normas culturais, encontra na loucura e no<br />
suicídio a única salvação.<br />
A má sorte de Catarina von Sassen repercute na vida das filhas e netas,<br />
todas formando um grupo de vítimas do “jogo”. Para Anelise, “É como se a vida<br />
fosse um jogo em que as peças mudam, mas as jogadoras são as mesmas.<br />
Incógnitas” (p.15). A narradora atribui à vida a forma de um jogo em que ela vai<br />
juntando as peças, recapitulando toda a história da família através de seus membros<br />
para enfim “descobrir como tudo começou, como acabou. Por que acabou” (p. 16).<br />
Tais lembranças são motivadas pela presença de uma mulher sempre<br />
solitária em cima do morro <strong>pos</strong>tada ao mar. A essa mulher “desconhecida”, ela<br />
chama de veranista e a curiosidade em conhecê-la vai permear toda a narrativa.<br />
A solidão auto-im<strong>pos</strong>ta de Anelise também é uma constante no romance.<br />
Na companhia de Bernardo, o cão fiel, Anelise passa a maior parte do tempo deitada<br />
na rede no avarandado de frente à praia embarcando na memória. São nesses<br />
momentos que as perdas que marcaram a vida da narradora vêm à tona. A perda<br />
da melhor e única amiga, a morte trágica dos pais e a maternidade malograda<br />
configuram-se como resultados das jogadas realizadas pelas bruxas, as jogadoras<br />
“incógnitas” (p. 15).<br />
Adélia sempre fora uma menina corajosa, parecia não temer a morte quando<br />
a desafiava sempre ficando à beirada do rochedo. Anelise lembra que “Não gostava<br />
quando Adélia falava na morte, era como se a velha bruxa estivesse à espreita para<br />
levar embora aquela que eu amava” (p. 16). E foi justamente o que aconteceu,