Suênio - pos-graduacao - Uepb
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Ela tem consciência que Joe, Anna e David não a ajudarão a concretizar seu<br />
objetivo que é individuar-se. Ela preferiria que eles não estivessem a acompanhando<br />
nessa fase de processo de reflexão e mudança de vida, embora eles sejam<br />
necessários por causa do carro de David, o único meio de transporte <strong>pos</strong>sível até<br />
chegar ao vilarejo e de lá seguir para o chalé, a casa da protagonista.<br />
Em As parceiras, o desabafo de Anelise ilustra claramente um modelo de<br />
família desestruturada e, por isso, distópica: “Não éramos uma família de verdade”<br />
(p. 26). No Chalé, solitária a maior parte do tempo, Anelise busca entender o<br />
fracasso de sua família, a partir da história de vida de seus avós. No domingo,<br />
primeiro dia dessa jornada ao passado, ela lembra da infância, fase marcada por<br />
grandes perdas e traumas.<br />
A protagonista começa a contar sua história, a partir do evento do casamento<br />
de sua avó Catarina, uma menina linda que completara catorze anos e que fora<br />
obrigada a casar-se com um homem rude e bem mais velho. Como conseqüência de<br />
seu casamento precoce, a jovem Catarina tornou-se uma mulher triste e esquisita.<br />
“Lembro de minha avó: roupas brancas, alfazema, solidão. E medo” (p. 13). Essa foi<br />
a impressão que Anelise teve no único contato com a avó. A descrição de Catarina<br />
lembra muito um fantasma e essa imagem sinestésica persegue Anelise desde a<br />
infância.<br />
Anelise comenta que o medo de Catarina vinha dos arroubos de seu marido:<br />
“O destino [da avó] foi zeloso: caçou-a pelos quartos do casarão, seguiu-a pelos<br />
corredores, ameaçou arrombar os banheiros chaveados como arrombava dia e noite<br />
o corpo imaturo” (p. 13). A comparação metafórica entre “banheiros chaveados” e o<br />
“corpo imaturo” de Catarina reforça a violência presente neste trecho do romance. É<br />
inevitável, também, não perceber a crítica ao patriarcado feita por Luft. A descrição<br />
da relação conjugal de Catarina intensifica ainda mais as diferenças entre os<br />
gêneros: a agressividade do masculino em detrimento da passividade do feminino. A<br />
violência física sofrida por Catarina, dentro do casamento arranjado pela mãe,<br />
constitui um elemento distópico na vida da personagem.<br />
Tanto sofrimento resultou alguns abortos e, nos intervalos. três filhas: Beatriz<br />
(Beata), Dora e Norma, a mãe de Anelise. Mais de vinte anos depois, veio uma<br />
quarta filha, Sibila (Bila), uma anã totalmente diferente da mãe e das irmãs e que foi<br />
concebida e nascida no sótão. A descrição de Sibila reforça ainda mais a distopia<br />
presente na família de Anelise: “Feia, cabeça pequena, olhinhos suínos, cabelo ralo