Suênio - pos-graduacao - Uepb
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A preocupação com as tradições culturais associada ao trauma do aborto e<br />
decepção de uma relação amorosa fez da protagonista uma mulher insegura nos<br />
relacionamentos e na interação com as pessoas. Agora que toda a verdade<br />
apareceu, ela se encontra mais confiante para continuar o seu processo de<br />
mudança.<br />
Em contraste com Surfacing, em que a maternidade num primeiro momento<br />
foi negada, verificamos, em As parceiras, um angustiante auto-exílio de Anelise no<br />
Chalé da família durante uma semana causado pela morte marcada de um filho tão<br />
esperado, após tantas tentativas sem sucesso. Ela isola-se no intuito de refletir<br />
sobre a própria vida ao “[...] mergulhar no passado para não enfrentar o futuro. Ou<br />
entender o presente? Tão vazio o meu presente. O conflito, por menor que seja, hoje<br />
em dia me desgasta demais. Prefiro vegetar” (p. 79). O mergulho aqui, assim com<br />
em Surfacing, também revela um mergulho no interior da personagem. Nesse<br />
momento de introspecção ela relembra a decepção do primeiro aborto: “[...] meu<br />
filme vai chegando na parte que não quero lembrar, mas preciso” (p. 88).<br />
Na quinta-feira de sua estada no Chalé, Anelise acorda molhada de suor por<br />
causa de um pesadelo. Nesse dia, ela volta ao passado mais uma vez e relembra as<br />
suas outras gravidezes e abortos. Sobre a quarta gravidez, ela nos relata o seguinte:<br />
O quarto aborto foi de sétimo mês, eu nunca chegara tão longe,<br />
estava doida de aflição. Mandei fazer roupinhas, preparar o berço,<br />
quase briguei com tia Dora quando aconselhou esperar mais um<br />
pouco. Achei que estava agourando (p. 95).<br />
Sem sucesso nas suas gravidezes, Anelise percebe que algumas das<br />
mulheres de sua família não tiveram filhos. Sua tia Dora, por exemplo, preferiu<br />
adotar um e Vânia, obrigada pelo marido, nunca foi mãe.<br />
Com o sonho frustrado de ser mãe, o casamento entre Anelise e Tiago esfria.<br />
Por mais que ele a compreendesse, não conseguia entender a obsessão da es<strong>pos</strong>a.<br />
Apenas a irmã Vânia, que também foi proibida de ser mãe, conseguiria se colocar no<br />
lugar de Anelise. Nessa fase, elas estão mais unidas: “A dor nos fazia irmãs” (p. 96),<br />
visto que desde a infância havia uma grande distância entre elas.<br />
Envelhecida demais para a idade que tem, Anelise lembra que queria morrer<br />
quando engravidou pela quinta vez. Ela estava com novas esperanças: “Os médicos<br />
tinham concluído que não havia nada de físico, meu corpo era perfeito”. Enfim, uma<br />
“gravidez excelente sem ameaça de aborto” (p. 101). O parto foi difícil, entretanto