Suênio - pos-graduacao - Uepb
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empregada que a substituiu não veio e o único companheiro fiel desapareceu no dia<br />
anterior. A curiosidade em descobrir quem é aquela misteriosa veranista ainda a<br />
consome. Talvez se encontrasse com a veranista e tivesse a oportunidade de<br />
conversar com alguém sua solidão diminuiria.<br />
Anelise resolve subir o morro e procurar por Bernardo: “[...] sinto falta dele,<br />
não tenho outra companhia agora. – Você está demorando dessa vez. Vai me trair<br />
também?” (p. 125). Novamente se observa o discurso da protagonista marcado pela<br />
revolta e auto-piedade. A única “parceira” de Anelise nesse momento são as<br />
lembranças do passado, a imagem de uma porção de mortos constituindo seu<br />
velório particular:<br />
Ninguém à vista: nem gente, nem bicho, nem emoção. Mas, se olhar<br />
por cima do ombro, sei que verei todo o meu cortejo fiel: os mortos,<br />
os loucos, os suicidas, os dúbios e desamparados, os culpados, os<br />
solitários. No fim da fila, uma anã de trança rala carrega uma caixa<br />
de sapatos (p. 125).<br />
A imagem descrita acima mostra que Anelise não consegue libertar-se dos<br />
fantasmas que a perseguiram por toda a vida. Mesmo tendo consciência de sua<br />
condição, ela parece não se esforçar para reverter tal quadro de depressão.<br />
Finalmente o encontro com a veranista, sua amiga de solidão, acontece: “Alfazema!<br />
De repente, sei quem é. Não entendo como não a reconheci antes. Então era por<br />
mim que ela estava esperando, todo esse tempo. Esse longo tempo. Descemos de<br />
mãos dadas” (p. 127).<br />
Como podemos ver, tanto a identidade da veranista quanto o desfecho da<br />
narrativa fica em aberto. Luft faz uso do cheiro de alfazema que marcara a infância<br />
da protagonista para dar uma pista ao leitor de reconhecer nessa veranista a figura<br />
de Catarina, a primeira vítima de todos os infortúnios das mulheres da família<br />
Sassen.<br />
A descida do morro das “parceiras” de mãos dadas também não fica clara ao<br />
leitor. Em todo o percurso da narrativa, Anelise mostra-se altamente depressiva e<br />
desencantada com a vida. Em uma interpretação coerente do final da narrativa de<br />
As parceiras sugere-se a repetição de um <strong>pos</strong>sível suicídio. Anelise, bastante<br />
parecida com a avó, acreditando não ter uma saída para superação de seus<br />
traumas, resolve pular do morro, assim como um dia Catarina pulou da sacada do