Suênio - pos-graduacao - Uepb
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ficar igual à avó. Um outro medo de Anelise era o de não crescer e ficar igual à tia<br />
anã Sibila (Bila). Todos esses medos são frutos das imagens distópicas<br />
simbolizados pelas figuras da avó e da tia que Anelise internalizou em seu<br />
inconsciente. Tais imagens estão presentes na memória da personagem.<br />
Para Anelise, Adélia “parecia mais real e íntima” (p. 22) do que a própria<br />
família. De repente, Anelise perde a amiga quando esta cai do rochedo no morro<br />
próximo ao Chalé. A morte da amiga deixou um grande vazio em Anelise: “Mesmo<br />
tantos anos depois da sua morte, não consigo vir ao Chalé sem escutar sua voz<br />
chamando por mim, dando risada alto, gritando nos rochedos na praia, para fazer<br />
eco” (p. 19).<br />
Dois anos após a morte da amiga, os pais de Anelise sofrem um acidente<br />
trágico de avião, deixando-a órfã aos catorze anos de idade, a mesma idade em que<br />
Catarina casara dando início a uma vida de infortúnios. Assim como em Catarina,<br />
cuja distopia se configura com a transição brusca e forçada da infância para a fase<br />
adulta, destruindo os sonhos da menina, para Anelise, as perdas repentinas da<br />
melhor amiga e dos pais se caracterizam como um elemento distópico na vida da<br />
protagonista, que a partir de então tem apenas a distante e desafetuosa companhia<br />
da irmã e das tias Beatriz e Sibila.<br />
3.3. A fragilidade dos relacionamentos humanos<br />
Segundo o sociólogo Zygmunt Bauman (2004), a fragilidade dos vínculos<br />
humanos é a principal característica da “fluida sociedade moderna” em que vivemos.<br />
O sentimento de insegurança em apertar os laços e, ao mesmo tempo, mantê-los<br />
frouxos é muito bem representado no mundo da literatura, através de personagens<br />
com dramas e problemas tão semelhantes ao cotidiano do mundo real,<br />
principalmente no que concerne ao relacionamento humano, muitas vezes cheio de<br />
conflitos e contradições.<br />
De acordo com Freud (1980), uma das três razões pelas quais não é <strong>pos</strong>sível<br />
a concretização da felicidade humana consiste na configuração de transtornos no<br />
seio das relações interpessoais, tanto dentro quanto fora do contexto familiar. Assim,