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Fernando Miguel Marques Jalôto Música de Câmara da 1ª metade ...

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3.9- As obras para tecla.<br />

As obras <strong>de</strong> que segui<strong>da</strong>mente iremos tratar não são música <strong>de</strong> câmara (no<br />

sentido corrente <strong>de</strong> música para um pequeno conjunto instrumental) mas antes música<br />

<strong>de</strong> tecla. Tão pouco lhes po<strong>de</strong>remos atribuir uma origem italiana. To<strong>da</strong>via, a exclusão<br />

<strong>de</strong>stas obras não só <strong>de</strong>ixaria incompletos o levantamento e a discussão do conteúdo do<br />

códice MM63, como limitaria a nossa visão sobre as múltiplas influências e práticas<br />

musicais vivi<strong>da</strong>s no Mosteiro <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Coimbra no século XVIII, prejudicando a<br />

obtenção <strong>de</strong> uma imagem <strong>de</strong> síntese <strong>de</strong>ste particular contexto musical.<br />

Quando o códice MM63 foi intitulado, algures no século XVIII, "Collecçaõ <strong>de</strong> varias<br />

obras para a pratica do cymbalo" <strong>de</strong>certo que o responsável por tal <strong>de</strong>nominação pensava<br />

sobretudo no papel <strong>de</strong>sempenhado pelo cravo no acompanhamento, fosse <strong>de</strong> obras<br />

instrumentais (como é o caso <strong>da</strong>s composições recolhi<strong>da</strong>s neste manuscrito) fosse <strong>de</strong><br />

obras vocais. O cravo era um dos instrumentos <strong>de</strong> eleição para o acompanhamento <strong>de</strong><br />

música religiosa em Portugal, nomea<strong>da</strong>mente no principal género paralitúrgico cultivado<br />

até ao início do século XVIII: o vilancete religioso. É comum encontrar as partes <strong>de</strong> baixo<br />

contínuo dos vilancetes do século XVII i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s como "guião para a harpa" ou "guião<br />

para o cravo". O cravo seria usado também no acompanhamento <strong>de</strong> obras policorais e, a<br />

exemplo <strong>de</strong> vários países europeus, substituiria o órgão durante a Quaresma, época<br />

litúrgica em que os órgãos se silenciavam. A importância do ensino e prática do<br />

acompanhamento a partir <strong>de</strong> um baixo cifrado era essencial a qualquer cravista ou<br />

organista profissional e mesmo a qualquer amador durante gran<strong>de</strong> parte do século XVII e<br />

<strong>de</strong> todo o século XVIII. O baixo contínuo foi uma <strong>da</strong>s primeiras características associáveis<br />

à música barroca a ser aceite no meio extremamente conservador do Portugal do século<br />

XVII. 137 A maior parte <strong>da</strong>s obras recolhi<strong>da</strong>s no MM63 <strong>de</strong>stinavam-se à aprendizagem do<br />

baixo contínuo, na continui<strong>da</strong><strong>de</strong> dos exercícios ou exemplos introdutórios que se<br />

apresentam no início do manuscrito. Estes exemplos apresentam-se escritos, com raras<br />

excepções, em duas pautas: na inferior os baixos cifrados; na superior a realização dos<br />

acor<strong>de</strong>s, maioritariamente a duas e três partes. Várias <strong>da</strong>s pautas superiores encontram-<br />

se parcialmente preenchi<strong>da</strong>s, e outras totalmente em branco. Os excertos funcionavam<br />

provavelmente como explicações práticas, complementando as regras básicas <strong>de</strong><br />

137. Rui Vieira Nery e Paulo F. <strong>de</strong> Castro, Sínteses <strong>da</strong> Cultura Portuguesa: História <strong>da</strong><br />

<strong>Música</strong>: 80-84.<br />

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