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Fernando Miguel Marques Jalôto Música de Câmara da 1ª metade ...

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sequela dos séculos anteriores. Dir-se-ia que a música se extinguiu em Santa Cruz com a<br />

passagem para o novo século. Surpreen<strong>de</strong>ntemente, também os vários estudos sobre os<br />

aspectos não musicais <strong>da</strong> história do Mosteiro, tão pródigos em informações sobre o<br />

período medieval, a reforma do século XVI e as conexões e interferências do Mosteiro nos<br />

<strong>de</strong>stinos <strong>da</strong> nação durante a crise dinástica e o domínio filipino, negam tacitamente<br />

qualquer informação sobre a centúria <strong>de</strong> setecentos.<br />

12<br />

É ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que talvez os tempos <strong>de</strong> maior glória do Real Mosteiro <strong>de</strong> Santa Cruz –<br />

e não só no campo musical – houvessem já passado: o Mosteiro foi fortemente<br />

penalizado durante o domínio <strong>da</strong> Casa <strong>de</strong> Habsburgo pelo seu apoio incondicional à causa<br />

<strong>de</strong> D. António, prior do Crato. 23 Com a Restauração a situação não se inverteu, sendo<br />

Santa Cruz preteri<strong>da</strong> em favor <strong>de</strong> outras po<strong>de</strong>rosas instituições monásticas, como o Real<br />

Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça 24 e, já no reinado <strong>de</strong> el-rei D. João V, o Real<br />

Mosteiro <strong>de</strong> Mafra. Mas Santa Cruz não per<strong>de</strong>u o seu lugar como um dos mais pujantes<br />

estabelecimentos religiosos em Portugal, exercendo ain<strong>da</strong> gran<strong>de</strong> influência nos <strong>de</strong>stinos<br />

do país, nomea<strong>da</strong>mente através <strong>da</strong> casa-irmã <strong>de</strong> S. Vicente <strong>de</strong> Fora, com o qual a corte<br />

manteve sempre especiais laços (elegendo-a como panteão <strong>da</strong> Casa Real) e do Mosteiro<br />

<strong>de</strong> Mafra, que viria a pertencer aos monges crúzios durante um curto período, na 2ª<br />

meta<strong>de</strong> do século XVIII.<br />

O po<strong>de</strong>r e prestígio <strong>da</strong> Congregação dos Cónegos Regulares <strong>de</strong> Santo Agostinho<br />

no século XVIII revelam-se particularmente no perfil <strong>de</strong> D. Gaspar <strong>da</strong> Encarnação, o<br />

responsável por nova e extensa reforma <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m efectiva<strong>da</strong> em 1723. 25 Esta ampla<br />

acção reformadora <strong>de</strong> D. Gaspar <strong>da</strong> Encarnação moldou in<strong>de</strong>levelmente o contexto<br />

23. Santa Cruz <strong>de</strong> Coimbra do século XI ao século XX – estudos no IX centenário do<br />

nascimento <strong>de</strong> S. Teotónio, 1082-1982.<br />

24. Joaquim Veríssimo Serrão, Santa Cruz <strong>de</strong> Coimbra e Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: um caso<br />

<strong>de</strong> rivali<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural?.<br />

25. Dom Gaspar <strong>da</strong> Encarnação recebeu o Hábito <strong>de</strong> Cónego Regular <strong>de</strong> Santo Agostinho a<br />

25 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1672, no Real Convento <strong>de</strong> São Vicente <strong>de</strong> Fora, em Lisboa. Ao longo <strong>da</strong> sua<br />

carreira eclesiástica ocupou vários cargos <strong>da</strong> mais alta digni<strong>da</strong><strong>de</strong> e responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>: foi<br />

Procurador-geral <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m e repeti<strong>da</strong>s vezes foi eleito Prior <strong>de</strong> São Vicente <strong>de</strong> Fora e Geral <strong>da</strong><br />

Congregação. A sua notorie<strong>da</strong><strong>de</strong> esten<strong>de</strong>u-se naturalmente para fora <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m, tendo assumido<br />

os cargos <strong>de</strong> Qualificador do Santo Ofício, Examinador <strong>da</strong>s três Or<strong>de</strong>ns Militares Portuguesas, e <strong>de</strong><br />

Prior do Crato. O crescente ascen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> sua personali<strong>da</strong><strong>de</strong> junto <strong>de</strong> el-rei D. João V manifestouse<br />

inicialmente na esfera dos assuntos privados; contudo, com a enfermi<strong>da</strong><strong>de</strong> do rei e a sua<br />

consequente fragili<strong>da</strong><strong>de</strong>, D. Gaspar esten<strong>de</strong>u a sua influência à política interna do reino. Após a<br />

morte do Car<strong>de</strong>al <strong>da</strong> Mota em 1747, assumiu abertamente o po<strong>de</strong>r, exercendo os cargos <strong>de</strong><br />

Principal Conselheiro e Confessor Real: ao controlar o Rei controlava também todo o Reino. Ver<br />

Maria Beatriz Nizza <strong>da</strong> Silva, D. João V: 49-50, 157.

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