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Fernando Miguel Marques Jalôto Música de Câmara da 1ª metade ...

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Santa Cruz <strong>de</strong> Coimbra. Apresentamos uma breve <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>stas obras, que constituem<br />

o enquadramento musical que é possível estabelecer para o repertório contido nos<br />

códices que são o objecto <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>ste trabalho. O primeiro códice contendo música<br />

vocal, e que já anteriormente mencionamos, é o MM 241 <strong>da</strong> BGUC. D. Pedro <strong>da</strong><br />

Encarnação foi o seu copista, pela informação que nos <strong>de</strong>ixou na folha <strong>de</strong> guar<strong>da</strong>:<br />

"Motetes / a 4 / Escreveo D. Pedro <strong>da</strong> Encarnação / p.ª o seu uso. 1754 / Continuou em<br />

Dezembro <strong>de</strong> 1771 / <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a página 59 até ao fim." À falta <strong>de</strong> outros exemplos <strong>de</strong> música<br />

vocal polifónica executa<strong>da</strong> em Santa Cruz <strong>de</strong> Coimbra no século XVIII po<strong>de</strong>mos<br />

consi<strong>de</strong>rar o conteúdo do MM241 como representativo <strong>da</strong> prática musical no Mosteiro. A<br />

partir do título escrito por D. Pedro, bem como pelo facto <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>morado <strong>de</strong>zassete<br />

anos a completar o manuscrito, confirmamos que o códice se <strong>de</strong>stinava ao "seu uso"<br />

privado enquanto Cantor-mor: as obras nele conti<strong>da</strong>s <strong>de</strong>vem ter sido coloca<strong>da</strong>s em<br />

partitura a partir <strong>de</strong> livros (partes) <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma a facilitar o seu trabalho <strong>de</strong><br />

"director"; mas po<strong>de</strong>m ter sido apenas recolhi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> forma a não se per<strong>de</strong>rem, ou talvez<br />

para serem usa<strong>da</strong>s como "recreação sacra" <strong>de</strong> um pequeno grupo <strong>de</strong> monges para o<br />

tempo <strong>da</strong> Quaresma. Compreen<strong>de</strong> unicamente obras vocais sacras, presumivelmente<br />

escritas ain<strong>da</strong> na primeira meta<strong>de</strong> do século XVIII, para quatro vozes: tiple, alto, tenor e<br />

baixo, na sua maioria; há no entanto duas composições para dois altos, tenor e baixo. A<br />

maior parte <strong>da</strong>s obras possui uma linha <strong>de</strong> acompanhamento do baixo contínuo,<br />

profusamente cifra<strong>da</strong>, mas que funciona quase sempre como um basso seguente,<br />

acompanhando a voz mais grave <strong>da</strong> composição, e só raramente se tornando<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte por um ou dois compassos. Os 32 motetes têm exclusivamente textos<br />

extraídos <strong>da</strong> liturgia <strong>da</strong> Quaresma e <strong>da</strong> Semana Santa (Responsos, Lamentações...),<br />

existindo por vezes várias versões musicais <strong>de</strong> um mesmo texto ("O vos omnes";<br />

"Plorans, ploravit",...). A maioria <strong>da</strong>s obras permanece anónima, mas três <strong>da</strong>s obras são<br />

atribuí<strong>da</strong>s a Henrique Carlos Correia (? -?), uma ao organista <strong>da</strong> Catedral <strong>de</strong> Coimbra José<br />

António <strong>de</strong> Oliveira (1696-1779), e outras quatro são atribuí<strong>da</strong>s a monges, talvez cónegos<br />

<strong>de</strong> Santa Cruz: três obras são <strong>de</strong> um "Frei Filipe 2º" e uma <strong>de</strong> "Frei Agostinho". Não<br />

sabemos se o próprio D. Pedro <strong>da</strong> Encarnação será autor <strong>de</strong> alguma <strong>da</strong>s composições. Na<br />

sua maioria são obras curtas, predominando uma escrita quase homofónica e<br />

<strong>de</strong>clamatória, anima<strong>da</strong> por breves pontos <strong>de</strong> imitação; alguns motetos apresentam<br />

contudo uma textura contrapontística mais <strong>de</strong>nsa. Quase to<strong>da</strong>s as obras possuem certa<br />

complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> harmónica, ricas em retardos, e são várias as que recorrem a um<br />

abun<strong>da</strong>nte emprego do cromatismo para melhor traduzir o carácter penitencial dos<br />

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