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Fernando Miguel Marques Jalôto Música de Câmara da 1ª metade ...

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textos. A sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> à <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> espiritual e emotiva dos textos revela-se também em<br />

pormenores, como as indicações <strong>de</strong> an<strong>da</strong>mento – "Muyto Devagar" ou "Grave" – bem<br />

como frequentes secções anota<strong>da</strong>s "brando", isto é, piano.<br />

22<br />

O segundo manuscrito, o códice MM46, tem por título "Jesus Maria / Joseph /<br />

Assectamentum / chori ad / organum / Monasterii Sanctæ Crucis / Collimbriæ / 1747".<br />

Trata-se <strong>de</strong> um livro <strong>de</strong>stinado ao órgão, com acompanhamentos <strong>de</strong> extractos do<br />

Ordinário, hinos e outras obras <strong>de</strong> cantochão para o Ofício e a Missa. Tal como vem<br />

<strong>de</strong>scriminado no índice "estas missas se tocam quando no coro se canta pelo livro velho,<br />

que he o primo tomo do Kyriale". O canto gregoriano era pois acompanhado ao órgão<br />

com regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> (é extenso o conteúdo do livro) mas resta-nos saber se tal prática<br />

continuou quando entraram em uso os livros novos, <strong>de</strong>stinados aos ritos "restaurados". 43<br />

O terceiro códice que gostaríamos <strong>de</strong> mencionar é o MM27, um manuscrito <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s dimensões 44 e que contém a partitura completa para um "Te Deum", antecedido<br />

por uma "Sinfonia" (mais especificamente intitula<strong>da</strong> "Introduzzione al Te Deum") e um<br />

"Tantum Ergum". As três obras estão escritas para um largo efectivo: tiple, alto e tenor<br />

solistas, dois coros a quatro vozes ca<strong>da</strong>, e orquestra. 45 A obra tem a indicação <strong>da</strong> autoria<br />

na primeira página: "Perez" ; facilmente i<strong>de</strong>ntificamos como provável autor <strong>de</strong>sta obra o<br />

compositor napolitano David Perez (1711-1778), "compositor régio" <strong>da</strong> corte portuguesa<br />

43. Outra prática <strong>da</strong> qual não temos testemunho directo em Santa Cruz <strong>de</strong> Coimbra, mas<br />

que po<strong>de</strong>mos relacionar em certa medi<strong>da</strong> com a do cantochão acompanhado ao órgão, tendo a<br />

mesma função <strong>de</strong> enriquecer e mo<strong>de</strong>rnizar o canto gregoriano, é a do contraponto improvisado<br />

sobre o cantochão. Praticado em França até às vésperas <strong>da</strong> Revolução, em Itália e Portugal parece<br />

ter subsistido pelo menos até meta<strong>de</strong> do século XVIII, e consistia na criação <strong>de</strong> um<br />

acompanhamento vocal extemporâneo, uma "harmonização" a 4 partes seguindo fórmulas<br />

convencionais. Sobre esta prática em Portugal, ver João Pedro D'Alvarenga, "Polifonia na liturgia<br />

bracarense: o Liber introitus, primeiro testemunho quinhentista." Em Estudos <strong>de</strong> Musicologia: 52-<br />

56. A esta prática se <strong>de</strong>dicava parcialmente o livro <strong>de</strong> Feillée "Metho<strong>de</strong> Nouvelle pour Apprendre<br />

parfaitement les Regles du Plaint-Chant, & <strong>de</strong> la Psalmodie; avec <strong>de</strong>s Messes, & autres Ouvrages<br />

en Plain-Chant figuré & musical &c. A Poitiers, chez Iean Faulcon. 1760" que se encontrava na<br />

Livraria <strong>de</strong> Santa Cruz. Em todo o caso, tal prática, a ter existido em Santa Cruz, <strong>de</strong>ve ter sido<br />

completamente bani<strong>da</strong> por D. Pedro <strong>da</strong> Encarnação, que escreveu sobre a menciona<strong>da</strong> publicação<br />

o seguinte comentário pouco abonatório: "Canto-chaõ figurado e musical, he invençaõ mo<strong>de</strong>rna,<br />

contraria a essencia e diffiniçaõ do mesmo cantochaõ; e contra o antigo, e sempre observado uso<br />

<strong>da</strong> Igreja. Musica aérea se lhe po<strong>de</strong> chamar com mais proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>". (Art.º 3080 <strong>da</strong> APPENDIX).<br />

44. 30.5 cm (h) X 44.6 cm (v) com 158 fólios<br />

45. Composição <strong>da</strong> orquestra: dois oboés, (cujos executantes se responsabilizariam<br />

possivelmente também pelas partes <strong>de</strong> "traversiéri " num só an<strong>da</strong>mento), duas trombetas, duas<br />

trompas ("corni", em alguns an<strong>da</strong>mentos especificamente chamados "corni <strong>da</strong> caccia"), cor<strong>da</strong>s (1º<br />

e 2º violinos, violas - frequentemente divisi - e "Basso", cifrado na partitura, indicando assim a<br />

presença do órgão a par dos esperados violoncelos, contrabaixos e fagotes.

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