Historia da medicina - História da Medicina - UBI
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<strong>da</strong> sua época e uma <strong>da</strong>s personali<strong>da</strong>des mais<br />
fascinantes e cultas do seu tempo, José Thomaz de<br />
Sousa Martins traduziu deste modo aquilo que ele<br />
chamou de “cruel predilecção” <strong>da</strong> tuberculose pela<br />
puber<strong>da</strong>de e i<strong>da</strong>de viril:<br />
“ ... a implacável moléstia rouba-nos anualmente<br />
entre 12 a 15.000 vi<strong>da</strong>s (...)<br />
E vi<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s mais úteis, porquanto a estatística<br />
ensina, já desde o tempo de Hipócrates e Celso, que<br />
a tísica pulmonar colhe o maior número de vítimas<br />
nas i<strong>da</strong>des que vão desde os 18 anos aos 35 anos”. (3)<br />
Personali<strong>da</strong>de fascinante, clínico infatigável,<br />
eloquente e culto professor <strong>da</strong> Escola Médico-<br />
Cirurgíca de Lisboa, orador apaixonado (“com palavras<br />
de aço e palavras de oiro - aço que se faria lâmina<br />
para ferir, oiro que se faria poalha para correr nas asas<br />
do vento, deslumbrado” (4) , no dizer de António José<br />
de Almei<strong>da</strong>), - a sua ânsia de saber, a sua apaixona<strong>da</strong><br />
adesão às novas ideias que as descobertas de Pasteur<br />
tinham trazido ao seio <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong>, e o seu<br />
profundo entusiasmo pela nova ordem que norteava<br />
na Europa a tentativa de cura <strong>da</strong> tuberculose, ligaram<br />
até ao fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> José Thomaz de Sousa Martins a<br />
esta região <strong>da</strong> Beira Interior.<br />
Sousa Martins e a 1ª Expedição Científica à<br />
Serra <strong>da</strong> Estrela<br />
A Serra <strong>da</strong> Estrela exerceu sobre ele um longo e<br />
perdurante fascínio.<br />
Na Europa de então, eram as montanhas o Eldorado<br />
dos tísicos. O tratamento pelo ar rarefeito <strong>da</strong>s grandes<br />
altitudes constituia a nova ordem terapêutica em<br />
matéria de tuberculose pulmonar.<br />
Foi na adesão a estes novos ventos que a<br />
curiosi<strong>da</strong>de científica e o entusiasmo contagiante de<br />
Sousa Martins se transformaram na mola<br />
impulsionadora <strong>da</strong> Expedição Científica à Serra <strong>da</strong><br />
Estrela, organiza<strong>da</strong> pela Socie<strong>da</strong>de de Geografia de<br />
Lisboa, em Agosto de 1881.<br />
Fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s ao ritmo <strong>da</strong>s políticas expansionistas dos<br />
estados europeus, as Socie<strong>da</strong>des de Geografia<br />
privilegiavam como campo <strong>da</strong>s suas investigaçãoes<br />
os países coloniais. Fornecer conhecimentos em<br />
temáticas varia<strong>da</strong>s que permitissem, quer aos<br />
governos quer a uma burguesia endinheira<strong>da</strong>,<br />
intercâmbios comerciais vultuosos, alicerçados na<br />
exploração de matérias primas e fontes energéticas<br />
lucrativas, na instalação de mercados de escoamento<br />
<strong>da</strong> produção industrial europeia, era a ver<strong>da</strong>deira linha<br />
que, a coberto do espírito de aventura e de fascínio<br />
pelo exotismo, tão marcado nos valores do<br />
Romantismo imperante na época, norteava a actuação<br />
<strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des de Geografia pela Europa fora.<br />
A Socie<strong>da</strong>de de Geografia de Lisboa não fugia a<br />
esse vector de investigação colonial marca<strong>da</strong>mente<br />
economicista. Prova concludente desse facto ressalta<br />
33<br />
na fun<strong>da</strong>mentação com que a Socie<strong>da</strong>de justifica o<br />
seu apoio à Expedição Portuguesa ao interior <strong>da</strong> África<br />
Austral, empreendi<strong>da</strong> por Silva Pinto, Roberto Ivens c<br />
Hermenegildo Capelo (1877-1879). Nela se declara<br />
explicitamente que a Expedição Científica ao grande<br />
sertã (africano se realiza na tentativa de encontrar<br />
meios que ajudem a solucionar ”os graves problemas<br />
<strong>da</strong>s Ciências Geográficas e <strong>da</strong> economia comercial”. (5)<br />
A Expedição Científica à Serra <strong>da</strong> Estrela, situa<strong>da</strong><br />
nos confins de uma região pobre e pouco atractiva,<br />
no Portugal profundo e real como agora se usa dizer,<br />
surge pois como um desvio anómalo, como uma nota<br />
invulgar na costumeira actuação <strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des de<br />
Geografia Europeias.<br />
Segundo S. A. Pereira, que acompanhou a<br />
Expedição como representante e repórter do jornal<br />
Distrito <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong><br />
(6) e do jornal do<br />
Porto Comércio<br />
Português, a ideia<br />
primeira <strong>da</strong> Expedição<br />
Científica à<br />
Estrela ficou a<br />
dever-se a Sousa<br />
Martins. Daí ter o<br />
médico Sousa<br />
Martins partilhado<br />
com Hermenegildo<br />
Capelo, explorador<br />
e geógrafo de<br />
renome, o prestigioso<br />
lugar de Presidente<br />
<strong>da</strong> Comissão<br />
administrativa<br />
<strong>da</strong> Expedição<br />
Científica a uma<br />
região pouco<br />
conheci<strong>da</strong> do interior português.<br />
“Aos literatos falava literatura; aos negociantes,<br />
negócios; aos pensadores, de ideias e de problemas;<br />
aos affectivos, de ternura e de afectos” (7) - assim<br />
explica Fialho de Almei<strong>da</strong>, em carta a Casimiro José<br />
de Lima, o forte poder persuasivo de Sousa Martins.<br />
Foi possivelmente esta força persuasiva contagiante,<br />
alia<strong>da</strong> a uma invulgar comunicabili<strong>da</strong>de e eloquência,<br />
que ajudou Sousa Martins a convencer a Socie<strong>da</strong>de<br />
de Geografia de Lisboa a lançar-se na Expedição à<br />
Serra <strong>da</strong> Estrela, desviando-a do rumo normal do seu<br />
campo de investigação.<br />
Intencionais razões científicas impeliam Sousa Martins<br />
para a Serra <strong>da</strong> Estrela e esse apelo <strong>da</strong> Serra<br />
ajusta-se a uma faceta do carácter deste grande<br />
médico que Miguel Bombar<strong>da</strong> em 1897 assim definiu<br />
“Pródigo de saber e pródigo de conquistas intelectuais,<br />
durante trinta anos fez jorrar a flux mananciais de<br />
ideias novas, de relações de teorias desenvolvi<strong>da</strong>s.<br />
Teorizador lhe chamam esses castos, que não<br />
Carlos<br />
Tavares,<br />
Sousa<br />
Martins e<br />
Emídio<br />
Navarro na<br />
célebre<br />
viagem à<br />
Estrela em<br />
Agosto de<br />
1884