Historia da medicina - História da Medicina - UBI
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Deves parecer um cadete.- (19)<br />
Diz o recruta:<br />
A camisa e as ceroulas<br />
Fizeram-me logo tremer,<br />
Puseram-se em pé comigo,<br />
Vi jeitos de me virem bater.<br />
As calças eram tão grandes,<br />
Que até metiam confusão;<br />
Dentro <strong>da</strong>s mesmas calças,<br />
Cabia outro figurão.<br />
As botas eram tão grandes,<br />
Que nem as podia arrastar;<br />
Tenho a certeza que serviam<br />
Para eu atravessar o mar,<br />
Do jaleco não se fala,<br />
Ficam-me as mãos escondi<strong>da</strong>s;<br />
As mangas eram tão grandes,<br />
Tinham dois metros de compri<strong>da</strong>s. (20)<br />
A Disciplina<br />
O rigor disciplinar exigido aos sol<strong>da</strong>dos, como um<br />
potente meio de sugestão e de intimi<strong>da</strong>ção para<br />
inculcar nos homens a deferência pelos chefes e para<br />
fomentar a ordem e a coesão na instituição militar, é<br />
referido, bem como as exigências do atavio <strong>da</strong> far<strong>da</strong>,<br />
este insinuado como “rito de orgulho”, nas cantigas<br />
populares, cria<strong>da</strong>s espontaneamente, como as<br />
seguintes quadras:<br />
Quando um minuto mais tarde,<br />
Na forma quero entrar,<br />
Não querem saber de desculpas,<br />
Logo me vão castigar.<br />
Se falo, tenho castigo,<br />
Se me calo, sou castigado,<br />
Não sei como hei-de viver,<br />
Nesta vi<strong>da</strong> de sol<strong>da</strong>do.<br />
Quando quero sair à rua,<br />
As botas levo engraxa<strong>da</strong>s,<br />
A sentinela <strong>da</strong> porta<br />
Logo se põe a examiná-las.<br />
Então a sentinela me diz:<br />
-Volta para trás rapazinho,<br />
Bota graxa nessas botas,<br />
Não gastes o pré em vinho.<br />
Temos que an<strong>da</strong>r direitinho,<br />
Em qualquer formatura;<br />
Se não estamos caladinhos,<br />
Logo nos vão para a figura. (21)<br />
Educação, Valentia e Competição<br />
A iniciação militar inclui a instrução militar como<br />
processo educativo dos ci<strong>da</strong>dãos, levando-os ao<br />
conhecimento de certos valores patrióticos e<br />
civilizacionais, que vêm <strong>da</strong> tradição portuguesa,<br />
orienta<strong>da</strong> para valores específicos de defesa e de<br />
continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Pátria, para além ensinamentos<br />
conducentes à formação geral do ci<strong>da</strong>dão.<br />
A ideologia que envolvia a acção militar e o esforço<br />
de mentalizar os jovens, e a socie<strong>da</strong>de de um modo<br />
geral, no sentido de valorizar o homem e o ci<strong>da</strong>dão,<br />
está espelha<strong>da</strong> na seguinte quadra, que reflecte a<br />
evidência de que, para muitos beirões, a única escola<br />
era o quartel.<br />
Todo o rapaz que é preguiçoso,<br />
Devia vir para sol<strong>da</strong>do,<br />
que aqui é que se aprende<br />
A ser brioso e educado. (22)<br />
Em momentos históricos e conjunturais,<br />
sublimam-se alguns valores, que as socie<strong>da</strong>des<br />
absorvem, mentalizando-as para certos ideais, como<br />
a sublimação do”ser homem” aliado ao “ser sol<strong>da</strong>do”,<br />
com significativa ascensão social, como já foi referido.<br />
A maturi<strong>da</strong>de de ser homem passa pela condigão de<br />
ser sol<strong>da</strong>do, com entra<strong>da</strong>, por direito, nos negócios<br />
<strong>da</strong> aldeia e na organização <strong>da</strong>s festas, por exemplo,<br />
para além <strong>da</strong> aptidão para defender o País. Na déca<strong>da</strong><br />
de trinta, escrevia um sol<strong>da</strong>do do Batalhão de<br />
Caçadores 6, de Castelo Branco:<br />
Olha que um militar<br />
quere-se valente p’ra guerra,<br />
com valentia lutar,<br />
E defender a sua terra. (23)<br />
A instituição militar fomentava, em nome <strong>da</strong> coesão<br />
e do espírito de corpo, para além <strong>da</strong> valorização social<br />
e patriótica, uma competição, quer entre os<br />
individuos do mesmo aquartelamento, quer entre<br />
aquartelamentos diferentes, como realçam as<br />
seguintes quadras, relativas a sol<strong>da</strong>dos que serviram<br />
em Uni<strong>da</strong>des de Castelo Branco:<br />
O sol<strong>da</strong>do de Cavalaria<br />
É o espelho <strong>da</strong> Nação,<br />
Quando põe o pé no estribo,<br />
Já leva a espa<strong>da</strong> na mão,<br />
Ca<strong>da</strong> vez que vejo o oito,<br />
Me lembra o meu Regimento;<br />
Minha espa<strong>da</strong>, meu cavalo,<br />
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