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Historia da medicina - História da Medicina - UBI

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pioram em n° de 24.000.<br />

Este flagelo é muito sugestivo de Sífilis epidémica<br />

e, na civilização hebraica, estas doenças eram<br />

considera<strong>da</strong>s “imundícies <strong>da</strong> carne”, fruto <strong>da</strong><br />

desobediência aos preceitos divinos necessitando de<br />

expiação através de oferen<strong>da</strong>s e holocaustos.<br />

Assim a tradição ju<strong>da</strong>ico-cristã introduz o factor<br />

mais determinante contra o desregramento dos costumes,<br />

impondo um sentimento de culpabili<strong>da</strong>de.<br />

Este sentimento era desconhecido noutras<br />

civilizações, como a grega, onde a homossexuali<strong>da</strong>de<br />

era relativamente bem tolera<strong>da</strong> e, as referências às<br />

doenças transmiti<strong>da</strong>s pelo sexo, aparecem em<br />

diversos escritos de autores famosos como Platão,<br />

Aristóteles e Hipócrates. Nas escavações de Pompeia,<br />

foram encontrados preservativos feitos de bexiga ou<br />

intestinos de animais domésticos. Lembro que a<br />

utilização do preservativo é incompatível, ain<strong>da</strong> hoje,<br />

com as orientações oficiais <strong>da</strong> Igreja Católica...<br />

Em várias obras de <strong>medicina</strong> <strong>da</strong> China antiga,<br />

encontram-se descriçôes inconfundíveis de doenças<br />

liga<strong>da</strong>s ao sexo.<br />

Durante a I<strong>da</strong>de Média estas foram considera<strong>da</strong>s<br />

“doenças vergonhosas” castigo de Deus pela cedência<br />

às tentações do “demónio <strong>da</strong> carne”. Inspiravam medo<br />

e motivavam especulações irracionais, fruto do<br />

obscurantismo cultural e religioso <strong>da</strong> época.<br />

Muitas pessoas acabaram nas fogueiras <strong>da</strong><br />

Inquisição!<br />

Mas falemos um pouco <strong>da</strong> Lepra. Conheci<strong>da</strong> desde<br />

remota antigui<strong>da</strong>de na Babilónia, Egipto, Israel, Índia<br />

e China, frequente na Europa, especialmente nas<br />

regiões orientais, a lepra conheceu “um extraordinário<br />

incremento” nos séculos XII e XIII.<br />

Segundo Tavares de Sousa, o ocidente Europeu viuse<br />

a braços com epidemias “e consequência de<br />

contágio no Oriente <strong>da</strong>s populações desloca<strong>da</strong>s por<br />

motivo <strong>da</strong>s Cruza<strong>da</strong>s”.<br />

Horror, repulsa e um profundo sentimento de<br />

vulnerabili<strong>da</strong>de tornaram a doença um símbolo de<br />

impureza espiritual e carnal, que segundo Tavares de<br />

Sousa “complicou singularmente o reconhecimento<br />

<strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de nosológica específica, já de si difícil, e foi<br />

a origem de inúmeros erros e de tremen<strong>da</strong>s injustiças.”<br />

Conscientes de se tratar de uma doença que se<br />

propagava por contágio directo, pessoal, a lepra<br />

inspirava atitudes extremas de segregação, uma<br />

espécie de “morte civil”, como lhe chamava Tavares<br />

de Sousa, que incluía, entre outras formas de<br />

segregação, a obrigatorie<strong>da</strong>de dos doentes (ou tidos<br />

como tal!!!) usarem vestimentas identificadoras <strong>da</strong> sua<br />

condição de leprosos, a interdição de falar com outros<br />

sem estarem virados contra o vento, de entrar em<br />

igrejas e chegar-se a multidões.<br />

Para assegurar completo ostracismo, encurralaram<br />

os lazarinos em leprosarias e gafarias, que diz Tavares<br />

de Sousa “se contavam em milhares na Europa<br />

65<br />

Ocidental” ao tempo <strong>da</strong> Expansão.<br />

Igualmente graves foram as consequências <strong>da</strong><br />

intervenção eclesiástica no “diagnóstico” de casos de<br />

lepra, cuja declaração carecia <strong>da</strong> sua apreciação até<br />

finais do século XIV, quando se começou a privilegiar<br />

a opinião dos médicos e cirurgiões.<br />

Aparentemente, eram frequentes os erros de<br />

diagnóstico, e muitos parecem ter sido os casos de<br />

doentes (cuja enfermi<strong>da</strong>de na<strong>da</strong> tinha a ver com o<br />

bacilo de Ilassen) condenados a vadiar pelas florestas,<br />

pedindo esmola de terra em terra.<br />

Por outro lado, o exército de lázaros que se<br />

acumulavam pelas estra<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Europa no Século XIII,<br />

representavam simultaneamente uma enorme e<br />

dispersa bolsa de seres humanos debilitados pela<br />

fome, desarmados pela falta de higiene. Não admira,<br />

por isso, que os relatos e indícios estatísticos sugiram<br />

o desaparecimento progressivo <strong>da</strong> epidemia após a<br />

devastadora “peste de 1348”: estavam todos mortos<br />

ou tão enfraquecidos que era mero preciosismo incluílos<br />

nos censos populacionais. Tal como Tavares de<br />

Sousa escreveu “infelizmente, declínio não significa<br />

extinção”.<br />

Situação semelhante à vivi<strong>da</strong> hoje com a Si<strong>da</strong>, foi a<br />

<strong>da</strong> eclosão <strong>da</strong> epidemia de Sífilis na Europa Ocidental,<br />

a partir dos finais do Século XV e Século XVI e que<br />

provocou grande alarme nas populações, <strong>da</strong>do o<br />

carácter particularmente agressivo, desfigurante e<br />

muitas vezes letal que assumia esta “nova” doença.<br />

Mas tal não impedia os sol<strong>da</strong>dos de continuarem a<br />

terem relações sexuais nos locais por onde<br />

passavam, quer durante as guerras, quer depois de<br />

desmobilizados. Não poupou nenhuma classe social,<br />

o próprio papa Júlio II parece ter sido atingido.<br />

Curiosamente era de bom tom, na socie<strong>da</strong>de<br />

masculina, já ter tido uma ou outra doença venérea,<br />

sinónimo de aventura clandestina e sucesso junto do<br />

“belo sexo”; exibia-se esse facto como se se tratasse<br />

de cicatriz dum duelo bem sucedido. Mas a gabarolice<br />

dos “D. Juan” e “Casanovas” deu lugar a um prudente<br />

silêncio à medi<strong>da</strong> que os avanços <strong>da</strong> ciência punham<br />

a nú as terríveis sequelas que podiam resultar dessas<br />

doenças.<br />

Durante o Século XIX e primeira metade do Século<br />

XX o epíteto siflítico era um estigma tão temível como<br />

o <strong>da</strong> lepra e do cancro ou <strong>da</strong> tísica (tuberculose).<br />

Em Portugal há provas <strong>da</strong> existência de uma<br />

enfermaria para siflíticos (casa <strong>da</strong>s boucas) já em<br />

1504, no Hospital de Todos os Santos, que era na<br />

altura um dos melhores <strong>da</strong> Europa. Vários intelectuais<br />

famosos foram vítimas <strong>da</strong> sífilis, como por exemplo<br />

Guy de Maupassant e Friedrich Nietzsche.<br />

Provavelmente de sífilis morreu também Erasmo de<br />

Roterdão, chegando alguns autores actuais a referir<br />

que terá sido a mais antiga vítima de Si<strong>da</strong>. Morto em<br />

1556 com 69 anos de i<strong>da</strong>de. Erasmo sofreu na parte<br />

final <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de febre com recaí<strong>da</strong>s, de diarreias, de

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