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Historia da medicina - História da Medicina - UBI

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de comer, ou mesmo tomar banho mais que uma vez<br />

por ano. Era hábito dormir com a roupa do dia e com<br />

ela iniciar outro dia de trabalho. Não havia retretes ou<br />

casas de banho. Não havia higiene dentária, salvo o<br />

alicate do barbeiro. Cuspir e escarrar para o chão de<br />

terra bati<strong>da</strong> ou de pedra de ferro, onde circulam cães<br />

vadios, era hábito ain<strong>da</strong> hoje conservado.<br />

Na rua se faziam despejos e lançavam penica<strong>da</strong>s.<br />

isto é, feses, urinas e águas sujas. To<strong>da</strong>s as ruas<br />

tinham lixo e muitas lixeiras. Na parte baixa <strong>da</strong><br />

povoação, geralmente junto a um curso de água,<br />

normalmente até seco no Verão, existe a maior lixeira<br />

<strong>da</strong> aldeia e o principal local de recepção de dejectos<br />

individuais e colectivos, um local de pastagem de cães,<br />

moscas e doenças. Só uma boa inverna<strong>da</strong> limpava<br />

estas lixeiras. Mais limpas, porém, seriam as<br />

capoeiras <strong>da</strong>s galinhas que habitavam no vão <strong>da</strong>s<br />

esca<strong>da</strong>s ou do balcão e cujo estrume era ouro para<br />

quatro pés de tomate e um metro quadrado de feijão<br />

de embarrar plantados na horta.<br />

No respeitante a to<strong>da</strong>s as donas de casa terem a<br />

casa limpa, na<strong>da</strong> nos custa a acreditar nos números<br />

apresentados: qual a mulher que conseguiria resistir<br />

às bocas <strong>da</strong>s vizinhas?<br />

8. Alimentação: «Encha-se o Tambor, seja do<br />

que for»<br />

A alimentação é má, já o dissemos. Essencialmente<br />

vegetal e primordialmente pão. O pão era o centro e o<br />

motivo primeiro do trabalho, para além de ser um bom<br />

definidor do estatuto social. Pão de trigo ou de centeio,<br />

conforme as posses e a produção cerealífera <strong>da</strong><br />

povoação. Por exemplo, come-se quase só pão de<br />

trigo no Rosmaninhal e quase só pão de centeio no<br />

Ladoeiro. Isto, claro, em épocas normais pois que,<br />

em anos de crise, não existe regra e come-se até<br />

pão de farelo se se o apanha.<br />

A riqueza <strong>da</strong> aldeia é medi<strong>da</strong> pela produção de trigo.<br />

O «pãozinho de Deus» é deificado: é pecado não o<br />

colocar sempre de costas no cesto, ou não o beijar<br />

quando se apanha do chão. A similitude com o pão<br />

Corpo de Cristo é total e, no essencial, indiferenciável.<br />

A maioria <strong>da</strong> população come caldo: uma sopa de<br />

vegetais tempera<strong>da</strong> com sal e um pe<strong>da</strong>ço de toucinho<br />

ou farinheira. Conforme a posse <strong>da</strong> família e conforme<br />

a povoação, entrava o azeite no tempero. Caldo logo<br />

de manhã - almoço, e caldo à noite - ceia, com um<br />

pe<strong>da</strong>ço de toucinho, farinheira, um terço de sardinha,<br />

ou na<strong>da</strong>. Indo trabalhar, levava-se a meren<strong>da</strong>, donde<br />

se comia o jantar e a meren<strong>da</strong>: pão, azeitonas,<br />

azeitonas e pão com um naco de toucinho ou enchido.<br />

Tudo isto depende <strong>da</strong> riqueza familiar, do dia e <strong>da</strong><br />

época. Domingos, festas ou dias santos e épocas de<br />

ceifa tinham dieta melhora<strong>da</strong>.<br />

Nestes dias, havia carne do talho ou <strong>da</strong> salgadeira,<br />

mas quase sempre e só carne de porco. Fartura de<br />

carne só mesmo de festa em festa. Vulgarmente, nem<br />

mesmo se come a cabrita, a ovelha ou o porco que<br />

se criou. São o mealheiro do lar. Um almoço<br />

domingueiro feito de sopa de feijão vermelho e, por<br />

segundo prato, feijão vermelho cozido e regado com<br />

azeite é manjar do Olimpo. O feijão grande é uma<br />

rari<strong>da</strong>de no Concelho de I<strong>da</strong>nha-a-Nova e o principal<br />

bem de troca com a olaria i<strong>da</strong>nhense Um copo de<br />

vinho feito <strong>da</strong>s uvas <strong>da</strong><strong>da</strong>s por Deus e quatro pés de<br />

vinha ou o copo posteriormente bebido na taberna<br />

completa a refeição de Domingos e festas.<br />

Na dieta alimentar do Concelho têm certa<br />

importância os alimentos silvestres. São cogumelos<br />

ou tortulhos, agriões, rabaças, criadilhas, amoras,<br />

bolotas de azinheira, leitugas e baldregas. Carne de<br />

caça é privilégio de uns poucos que têm arma ou posses<br />

para adquirir caça aos caçadores <strong>da</strong> aldeia.<br />

O peixe é a sardinha ou o bacalhau. Raros e caros.<br />

Peixe do rio, igualmente raro. Aliás, «peixe não puxa<br />

carroça».<br />

9. I<strong>da</strong>des<br />

A população do Concelho de I<strong>da</strong>nha-a-Nova é jovem<br />

e situa-se na faixa etária <strong>da</strong> energia e <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de.<br />

Noventa e um por cento dos recenseados, em 1944,<br />

situa-se na faixa etária mais activa: 20-64 anos. Cerca<br />

de 20% <strong>da</strong> população an<strong>da</strong>ria entre os 20 e os 45<br />

anos, enquanto 15% se situaria entre os 46 e os 65.<br />

Não começou ain<strong>da</strong> a sangria <strong>da</strong> emigração para a<br />

Europa e para o litoral. Existe ain<strong>da</strong> o domínio do<br />

Primário e <strong>da</strong> rurali<strong>da</strong>de, como se pode vislumbrar no<br />

ponto dez.<br />

10. Economia. Profissões<br />

55<br />

Através do Recenseamento Eleitoral de 1944,<br />

observa-se que a economia assenta no sector Primário,<br />

já que 67% dos recenseados trabalha na agricultura (3) .<br />

Os sectores Secundário e Terciário possuem números<br />

semelhantes entre si, 14% e 19%, respectivamente.<br />

Se se ultrapassar a diferente designação, saberse-á<br />

que os jornaleiros constituem 68% do sector<br />

Primário <strong>da</strong> economia do Concelho e 46% do total<br />

dos recenseados. É claro que há neste grupo social<br />

vários matizes. Do que na<strong>da</strong> possui para além <strong>da</strong><br />

roupa que lhe cobre o corpo e a sua imensa prole, ao<br />

que possui 250 m2 de horta, uma cabra, um jumento<br />

e um casinha, vai to<strong>da</strong> uma pleiade de varie<strong>da</strong>des.<br />

Haverá mesmo aquele jornaleiro que possui um bom<br />

pe<strong>da</strong>ço de terra e até meia dúzia de cabras e ovelhas<br />

que ocupam a mulher e os filhos jovens e ele só faz<br />

alguns meses à jorna. Em todos, de igual, o trabalho<br />

diário por conta de outrem a dominar as suas vi<strong>da</strong>s e<br />

os orçamentos familiares. Uma prova clara do<br />

predomínio do trabalho assalariado nos campos<br />

raianos e mesmo a sua proletarização.

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