Historia da medicina - História da Medicina - UBI
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O Dr. Leonardo Manuel <strong>da</strong> Costa Torres apresenta<br />
no final esta conclusão:<br />
“Careciam de reconhecimento analytico as águas<br />
thermaes de Manteigas e Unhais <strong>da</strong> Serra. Fiz-lhes<br />
esse reconhecimento indispensável e o primeiro, e<br />
d’elle resultou a sua classificação que é esta: águas<br />
thermaes alcalinas silico - sulplureas”. (14)<br />
O programa de estudo <strong>da</strong> sub-secção de<br />
Ophtalmologia consta do relatório que o Dr. Francisco<br />
Lourenço <strong>da</strong> Fonseca Junior entregou à Secretaria <strong>da</strong><br />
Comissão Administrativa <strong>da</strong> Expedição <strong>da</strong>tado de 28<br />
de Fevereiro de 1882.<br />
Um aspecto interessa relevar neste relatório: o que<br />
se prende com a mentali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s gentes <strong>da</strong> região<br />
serrana nos finais do século passado. A natural<br />
desconfiança <strong>da</strong>s populações analfabetas e isola<strong>da</strong>s<br />
nestes confins do mundo, soube ser contorna<strong>da</strong> de<br />
modo hábil, facto que espanta e confere uma dimensão<br />
profun<strong>da</strong> ao trabalho desta sub-secção. A actuação<br />
destes médicos citadinos do século passado<br />
sobressai pela sua consonância, com os princípios<br />
que devem nortear os trabalhos de campo de um<br />
investigador em Ciências Sociais dos nossos dias.<br />
Assim relata o Dr. Francisco Junior o modo como<br />
procederam na recolha de material para o segundo<br />
ponto do programa, designado por Pathologia Geral<br />
Ocular.<br />
“Tivemos de recorrer ao estratagema de charlatães<br />
de feira: necessitámos de, dias antes de nos<br />
installarmos n’uma locali<strong>da</strong>de, fazermos annunciar a<br />
próxima chega<strong>da</strong> de um médico oculista <strong>da</strong> capital,<br />
que punha gratuitamente o seu préstimo ao serviço<br />
<strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de enferma. Foi assim, graças a tal<br />
expediente, que em Manteigas só n’uma tarde, fomos<br />
procurados por 41 doentes <strong>da</strong> villa e suas<br />
circunvizinhanças” (15) .<br />
Constituia, respectivamente, primeiro e terceiro<br />
pontos do programa desta subsecção, o encontro <strong>da</strong>s<br />
respostas às seguintes interrogações:<br />
“1° - A diminuição <strong>da</strong> pressão atmospherica, pela<br />
altitude, exerce alguma influencia immediata sobre a<br />
função visual?<br />
3° - Qual a therapeutica indigena <strong>da</strong>s doenças do<br />
apparelho ocular?”<br />
A Expedição, inicialmente pensa<strong>da</strong> como plurianual,<br />
acabou por se restringir a uma única viagem.<br />
Mas Sousa Martins retorna à Serra em Agosto de<br />
1884, e, durante quatro dias na companhia de Carlos<br />
Tavares, professor <strong>da</strong> Escola Médico-Cirúrgica de<br />
Lisboa, médico do Paço (grande amigo do rei D.<br />
Carlos) e do Jornalista Emídio Navarro, volta a<br />
percorrer os tortuosos caminhos <strong>da</strong> Serra.<br />
Pela magia <strong>da</strong> escrita saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> pena de Emídio<br />
Navarro, com uma elegância de estilo que fez dele<br />
um dos grandes jornalistas do seu tempo, perpassam<br />
ante os nossos olhos esses quatro dias vividos por<br />
Sousa Martins na Serra <strong>da</strong> Estrela em Agosto de 1884.<br />
35<br />
A beleza esmagadora e agreste de várias regiões<br />
<strong>da</strong> Serra, as dificul<strong>da</strong>des <strong>da</strong> subi<strong>da</strong> de certos<br />
penhascos, o fascínio mágico <strong>da</strong>s lagoas, a<br />
singulari<strong>da</strong>de de determinados aspectos geológicos,<br />
os efeitos <strong>da</strong> diminuição <strong>da</strong> pressão no organismo<br />
destes homens <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, são alguns dos aspectos<br />
que este livro faz renascer magicamente.<br />
Mas nele, com uma força quase assombrosa,<br />
ressalta a personali<strong>da</strong>de empenha<strong>da</strong> de um homem<br />
em busca <strong>da</strong> concretização de um sonho: a de Sousa<br />
Martins.<br />
Os registos realizados no observatório<br />
meteorológico fun<strong>da</strong>do pelo Governo no Poio Negro<br />
(em Fevereiro de 1882) a pedido <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de de<br />
Geografia, tinham comprovado como Sousa Martins<br />
supusera, a existência nesse local de excelentes<br />
condições (de temperatura e humi<strong>da</strong>de) favoráveis à<br />
cura <strong>da</strong> tuberculose pulmonar. Apenas um elemento<br />
negativo se registava nesse local: a predominância<br />
de fortes ventanias de quadrante de Noroeste.<br />
Foi a busca de outros locais, entre as altitudes de<br />
1500 a 1800 m, possuindo iguais condições de<br />
temperatura e humi<strong>da</strong>de, mas mais abrigados desses<br />
ventos, que determinou a vin<strong>da</strong> de Sousa Martins à<br />
Serra, no verão de 1884.<br />
A escolha recaiu no Valle do Conde (1.700 m), entre<br />
dois outros lugares analisados: Corgo <strong>da</strong>s Mós<br />
(1600 m) e Santinha (1.500 m), local que num primeiro<br />
relance pareceu a Sousa Martins reunir as condições<br />
mais favoráveis para a instalação de um futuro<br />
Sanatório.<br />
O aspecto do coberto vegetal guiou Sousa Martins<br />
na escolha destes três locais.<br />
A existência de abun<strong>da</strong>nte vegetação,<br />
principalmente arbustiva e herbácea, era indiciadora<br />
de um local naturalmente abrigado de ventanias fortes.<br />
Por razões que se prendiam com uma mais fácil<br />
acessibili<strong>da</strong>de (proximi<strong>da</strong>de de Manteigas e do<br />
observatório) era no entanto o Corgo <strong>da</strong>s Mós o local<br />
que, numa fase mais imediata, apresentava maiores<br />
facili<strong>da</strong>des para a construção de um Sanatório.<br />
Com o intuito de reforçar as naturais condições de<br />
abrigo desse local, Sousa Martins solicitou à Câmara<br />
de Manteigas o plantio, aí, de duzentas árvores.<br />
Precursor <strong>da</strong> arborização <strong>da</strong> Serra foi, pois, este<br />
médico genial de finais do século passado.<br />
A escolha criteriosa de coníferas, espécie melhor<br />
a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> à altitude do local e menos propícia a uma<br />
alteração climática no sentido de um aumento de<br />
humi<strong>da</strong>de, dá a dimensão <strong>da</strong> visão interdisciplinar e<br />
do rigor científico que norteava a actuação de Sousa<br />
Martins.<br />
Mas uma outra razão motivou este seu retorno à<br />
Serra em 1884: a visita a Alfredo César Henriques, o<br />
primeiro doente tuberculoso que a conselho do próprio<br />
Sousa Martins procurou nas altitudes <strong>da</strong> Estrela uma<br />
via de cura. Este jovem, e cito as próprias palavras de