Historia da medicina - História da Medicina - UBI
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chegam a compreender que a <strong>medicina</strong> até na sua<br />
prática, é força<strong>da</strong> a recorrer a hipóteses que<br />
estabeleçam relações, a assentar teorias que sejam<br />
a estrêla de orientação”. (8)<br />
As razões do interesse de Sousa Martins pela<br />
Expedição Cientí-fica à<br />
Estrela corro-boram,<br />
do meu ponto de vista,<br />
esta afirma-ção de<br />
Miguel Bombar-<strong>da</strong>.<br />
Esse interesse não foi<br />
mais do que a busca<br />
do alicerçar de uma<br />
teoria que apaixona<strong>da</strong>mente<br />
orientou a investigação<br />
científica do<br />
grande médico: a cura<br />
<strong>da</strong> tuberculose pulmonar<br />
pelo ar rarefeito dos<br />
climas de altitude.<br />
Numa bela passagem<br />
<strong>da</strong> carta-prefácio<br />
que escreveu como<br />
apre-sentação do livro de Emídio Navarro, “Quatro dias<br />
na Serra <strong>da</strong> Estrela”, Sousa Martins explicita os efeitos<br />
terapêuticos do ar dos climas de altitude. Escreveu:<br />
“Figure o meu amigo um leque de panno, atacado<br />
pela traça. Se o leque se conservar por largas vezes<br />
fechado, o insecto vai fazendo muito<br />
descansa<strong>da</strong>mente o seu ninho por entre as dobras<br />
do panno, certo de que nem os excessos de luz, nem<br />
os impetos do ar, nem os resfriamentos <strong>da</strong> atmosphera<br />
lhe <strong>da</strong>rão cabo <strong>da</strong> prole; mas se uma vez, o<br />
abandonado leque fôr aberto a um permanente banho<br />
atmosphérico, então nem a traça, nem a sua raça se<br />
sentirão à vontade(...).<br />
Ou emigram ou morrem (...). Pois o leque é o<br />
pulmão que em muitos sítios tem pregas. E a traça é<br />
o micróbio <strong>da</strong> tísica, ao qual, um ar puro, quasi seco,<br />
rarefeito e de temperatura pouco variável e pouco<br />
eleva<strong>da</strong> causa maior <strong>da</strong>nnos do que S. Tiago causou<br />
aos moiros...” (9)<br />
Era pois a comprovação científica <strong>da</strong> existência na<br />
Estrela deste clima de temperaturas pouco eleva<strong>da</strong>s<br />
e de fracas amplitudes térmicas diurnas e anuais, que<br />
atraía Sousa Martins para a Estrela.<br />
Em uma outra passagem do livro de Emídio Navarro,<br />
o grande médico clarifica de um outro modo os efeitos<br />
benéficos desses ares serranos:<br />
“Rarefeito o ar dilata o pulmão e assim evita os<br />
ninhos de productos morbidos; uniformiza a circulação<br />
respiratória e dessa arte contraria as tendências<br />
congestivas e exu<strong>da</strong>tivas, tão nefastas aos tísicos”. (10)<br />
Em Agosto de 1881, a Socie<strong>da</strong>de de Geografia<br />
realiza a sua Expedição Científica à Estrela. Possuia<br />
ela um cariz marca<strong>da</strong>mente multidisciplinar,<br />
abrangendo um leque variado de ciências e de<br />
34<br />
temáticas desde a Arqueologia à Botânica, <strong>da</strong><br />
Geologia ao estudo <strong>da</strong> Hidrologia (temperatura e<br />
densi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s águas <strong>da</strong>s lagoas), <strong>da</strong>s aptidões<br />
agrícolas dos solos, às vantagens <strong>da</strong> instalação de<br />
um posto meteoro-lógico visando a construção na<br />
Estre-la de<br />
sanatórios<br />
semelhantes aos<br />
que funcionavam<br />
com êxito nos Alpes<br />
suiços.<br />
Embora não explicitado,<br />
constituía no<br />
entanto este último<br />
objectivo a razão fun<strong>da</strong>mental<br />
<strong>da</strong> Expedição.<br />
O jornalista<br />
Emídio Navarro assim<br />
o declara no seu<br />
livro:<br />
“A grande expedição<br />
à Serra <strong>da</strong><br />
Estrela em 1881<br />
quasi que teve por fim principal, embora meio<br />
disfarçado, uma inspecção à Serra, de modo a<br />
colherem-se os esclarecimentos necessários para<br />
aquela empresa”. (11)<br />
Sousa Martins foi nomeado chefe <strong>da</strong> Secção de<br />
Medecina, coadjuvado pelo Dr. Jacinto Augusto Medina,<br />
facultativo do Hospital <strong>da</strong> Marinha e pelo Dr. José<br />
António Serrano, professor <strong>da</strong> Escola Médico-Cirúrgica<br />
de Lisboa.<br />
Dividia-se em 2 sub-secções esta Secção de<br />
Medecina: sub-secção de Hydrologia - Minero <strong>Medicina</strong>l,<br />
chefia<strong>da</strong> pelo Dr. Leonardo Manuel Leão <strong>da</strong><br />
Costa Torres, e sub-secção de Ophtalmologia chefia<strong>da</strong><br />
pelo Dr. Francisco <strong>da</strong> Fonseca, Médico Oculista.<br />
No entanto, apesar destas duas sub-secções, o<br />
grande propósito <strong>da</strong> secção de <strong>Medicina</strong> <strong>da</strong> Expedição<br />
foi - afirmou-o Emídio Navarro:<br />
“Estu<strong>da</strong>r a applicação <strong>da</strong>s excepcionais altitudes<br />
d’essa serra ao tratamento de certas doenças<br />
pulmonares”. (12)<br />
A Sousa Martins coube a elaboração de todo o<br />
programa <strong>da</strong> secção de <strong>Medicina</strong> <strong>da</strong> Expedição.<br />
A sub-secção de Hydrologia Minero <strong>Medicina</strong>l,<br />
competia a “análise <strong>da</strong>s águas thermaes de Manteigas<br />
e Unhais <strong>da</strong> Serra”.<br />
O sumário do relatório entregue à Comissão<br />
Administrativa em 25 de Agosto de 1882 dá-nos conta<br />
dos trabalhos realizados por esta sub-secção. Síntese<br />
<strong>da</strong>quilo que se conhecia acerca <strong>da</strong>s duas nascentes<br />
termais, estudo químico <strong>da</strong>s águas, levantamento do<br />
estado <strong>da</strong>s nascentes e comprovação de uma<br />
sentença popular, vulgar, na época, na região <strong>da</strong> Beira:<br />
“Cal<strong>da</strong>s de Manteigas para os rheumatismos,<br />
banhos de Unhaes para os dermatosos” (13)