Historia da medicina - História da Medicina - UBI
Historia da medicina - História da Medicina - UBI
Historia da medicina - História da Medicina - UBI
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
dos instantes,<br />
intermináveis irmãos <strong>da</strong>s grandes coisas sem<br />
sentido,<br />
concluindo os deuses inevitáveis do eterno!<br />
Victor Matos e Sã, Horizonte dos Dias.<br />
com pujança de sonhos e de ideais no espanto de<br />
descoberta do seu todo - corpo e alma - consciência<br />
de identificação dum corpo que o fará completar a<br />
participação plena no mistério <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />
Nos muros adolescentes<br />
apareciam na cal<br />
iniciações sagra<strong>da</strong>s,<br />
riscos, traços, curvas,<br />
sóis estreitos de Vénus<br />
- to<strong>da</strong> a geometria suja<br />
dos alfabetos obscenos.<br />
Sinais que nos guiavam<br />
de muro em muro<br />
para os lençóis de lama secreta<br />
nas catacumbas.<br />
José Gomes Ferreira, Obra Poética<br />
Completa, 3º vol..<br />
O adolescente torna-se crítico, agressivo perante<br />
uma socie<strong>da</strong>de que não tem espaço para a realização<br />
dos seus sonhos, culpabilizando os <strong>da</strong> sua espécie,<br />
os outros homens, que não a souberam construir à<br />
medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> aproximação, pelo menos, dum ideal. É<br />
tempo de rebeldia, de alma inteira, amando com plenitude,<br />
sem entraves, recusando, com recusas radicais.<br />
O tempo sempre a correr... e, num ápice, a<br />
responsabili<strong>da</strong>de de ter crescido - a profissão, o<br />
emprego, o querer construir o seu mundo familiar. Na<br />
nossa socie<strong>da</strong>de começa cedo o travo do tempo que<br />
vai definindo a angústia <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de do futuro, que o<br />
jovem vê com a desilusão antecipa<strong>da</strong> de ter de<br />
competir ca<strong>da</strong> vez mais.<br />
Vem a i<strong>da</strong>de madura, a manifestação <strong>da</strong> pujança<br />
física e intelectual, a consciência <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, que<br />
em na<strong>da</strong> corresponde aos sonhos de adolescente. O<br />
aspecto material começa a pesar, e tanto, em alguns<br />
casos, que se escamoteiam os prazeres <strong>da</strong> fruição<br />
<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> por si própria. O prazer de viver, saboreando-o<br />
lentamente. To<strong>da</strong>via, o Tempo não perdoa: “Tudo é<br />
calmo e leve / como o teu olhar... / Uma ave breve /<br />
atravessa o ar... / (...) Já não sei quem sou. / Adorote,<br />
sabes? / No meu amor cabes / e... A ave? -<br />
Passou. (António Salvado, ANTOlogia).<br />
Ca<strong>da</strong> vez mais, a luta incessante - o homem, um<br />
Sísifo, carregando continua<strong>da</strong>mente a pedra até ao<br />
cimo do monte, para rebolar de novo e de novo<br />
recomeçar... Tremendo castigo dos deuses! Mas é aí<br />
que se assume a digni<strong>da</strong>de de ser homem: aceitar<br />
essa luta, não desanimando para não desmerecer -<br />
destino na terra depois do Paraíso perdido, que Torga<br />
defende dever procurar-se aqui e agora. To<strong>da</strong> a sua<br />
obra o documenta. Eis um momento:<br />
CANTILENA DA PEDRA<br />
Sem musa que me inspire,<br />
Canto como um pedreiro<br />
Que, de forma singela,<br />
Embala a sua pedra pela serra fora...<br />
Upa! que lá vai ela!<br />
Upa! que vai agora!<br />
A pedra penitente que eu arrasto<br />
Tem o tamanho de uma vi<strong>da</strong> humana.<br />
E só nesta toa<strong>da</strong> a movimento,<br />
Embora o salmo já me saia rouco.<br />
Upa! meu sofrimento!<br />
Upa! que falta pouco...<br />
Miguel Torga (30 de Julho de 1968),<br />
Antologia Poética<br />
O homem assume, por opção e liber<strong>da</strong>de, um<br />
caminho que vai traçando. Nos desiludidos sonhos,<br />
ain<strong>da</strong> a esperança e a capaci<strong>da</strong>de de edificar:<br />
(...)<br />
No dentro <strong>da</strong> incerteza a construção se mostra<br />
edifica<strong>da</strong><br />
enquanto adormecemos à beira do regato seco<br />
ou bebemos na aridez dos sonhos destruídos<br />
a directriz traça<strong>da</strong> pela primeira alegria -<br />
quando os dedos aprendiam a tocar as coisas<br />
simples.<br />
as coisas ternas <strong>da</strong> infância, a refazer<br />
pequenos barcos azuis sulcando o mar<br />
<strong>da</strong> esperança...<br />
Pensar nos sons agudos dessa presença apaga<strong>da</strong>.<br />
recolher na palma <strong>da</strong> mão os frutos do-já-ter-sido,<br />
é caminhar até ao impossível, clarificar a solidão...<br />
(...)<br />
António Salvado, Recôndito<br />
(do livro homónimo)<br />
À medi<strong>da</strong> que Lâquesis vai desenrolando o fio <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong>, mais ca<strong>da</strong> ser humano se agarra a ele num amor<br />
inesgotável. Viver é a certeza palpável, viver é dom<br />
misterioso que uma outra certeza perturba: a certeza<br />
<strong>da</strong> morte, que faz despertar o homem absurdo, que<br />
ain<strong>da</strong> ama a vi<strong>da</strong> aspira<strong>da</strong> num hausto de sensações.<br />
Mas nessa i<strong>da</strong>de madura, a força vital é a força <strong>da</strong><br />
Natureza:<br />
Senhor, deitou-se a meu lado<br />
E cheirava a maçã como no dia<br />
Em que o primeiro pecado<br />
Furava a terra e nascia.<br />
Era preciso lutar,<br />
59