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Videoclipe: o elogio da desarmonia - Thiago soares 63<br />
fortalece e salva. a música pop e o videoclipe encontram-<br />
-se articulados aos princípios de polifonia bakhtiniano tan-<br />
to da perspectiva de que se trata da projeção de uma or-<br />
questração possível de “contrários” como no fato de que,<br />
quando possível, esta “orquestração” pode agir em prol<br />
de um projeto utópico.<br />
o diálogo destas vozes polifônicas ganha, em alguns<br />
casos, tom celebratório, como aponta Bakhtin, permitindo<br />
a existência de um texto adicionador, tolerante<br />
e permissivo. Sendo, então, o ato de troca verbal ou<br />
cultural, também, uma atitude modificadora. A recente<br />
disseminação em maior escala da cultura hip hop, nos<br />
Estados Unidos, vem flagrar questões celebratórias sobretudo<br />
no videoclipe – principal veículo de divulgação<br />
destes artistas. a polifonia tolerante ganha nuances imagéticas,<br />
principalmente, através de clipes de artistas de<br />
origem latina e integrados à indústria fonográfica norte-<br />
-americana. A cenografia do gueto, do subúrbio e da cultura<br />
de rua destas localidades pode ser vislumbrada em<br />
clipes como All I Have, protagonizado por Jennifer Lopez,<br />
Love at First Sight, sobre canção de Mary J. Blidge<br />
ou Dilemma, com Nelly e Kelly rowlands. o bairro é um<br />
local apaziguador de vozes, palco da encenação de histórias<br />
de amor que trazem como protagonistas, em geral,<br />
mulheres latinas e negros do gueto. interessante perceber<br />
que, nestes ambientes, não há geração de conflitos,<br />
sendo o gueto um local da celebração da diferença e da<br />
unificação das vozes.<br />
o princípio de orquestração destas vozes também é<br />
incrementado por uma estética publicitária (de forte saturação<br />
cromática, referenciais de figurino e direção de<br />
arte assemelhando-se a editoriais de moda de revistas<br />
especializadas), evocando que, no centro deste “paraíso<br />
polifônico”, há espaço para o consumo. Carros, marcas de<br />
roupa, tipos específicos de tênis, acessórios: cria-se um<br />
jogo de referências a determinadas culturas que adentra<br />
ao terreno da moda, buscando, sobretudo nos códigos<br />
gerados a partir da roupa, uma noção de pertencimento<br />
a determinada “voz”, como princípio identitário. o videoclipe<br />
I Want You, com a cantora mexicana Thalia e o<br />
rapper Fat Joe, diz respeito a esta articulação da polifonia<br />
adentrando ao terreno das codificações da moda e da publicidade.<br />
a alegria de fazer parte do gueto e a leveza no<br />
gestual da cantora confluem para a percepção de espaços<br />
polifônicos celebradores das diferenças étnicas. Vale ressaltar<br />
que, como artifício de marketing, a gestão do princípio<br />
de polifonia de Bakhtin vai encontrar cada vez mais<br />
espaço no concorrido mercado fonográfico norte-americano.<br />
É preciso fazermos uma advertência: a polifonia não<br />
consiste num mero aparecimento de um representante de<br />
um determinado grupo, mas na elaboração de um cenário<br />
textual em que se promova a orquestração das vozes e a<br />
integração entre elas.<br />
os vestígios de culturas inseridas numa dinâmica<br />
polifônica aparecem em cenários, gestuais, vestimentas,<br />
formas de se expressar, de falar. em alguns momentos, a<br />
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