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Videoclipe: o elogio da desarmonia - Thiago soares 123<br />
desfiles para grifes. Postulamos, portanto, que a moda,<br />
sob o prisma da dualidade entre o “comércio” e a “arte”,<br />
tem semelhanças conceituais com o videoclipe, pois ambos<br />
podem gerar tramas ficcionais, a partir de uma série<br />
de signos, cuja ordem se destina ao comércio, mas que<br />
ganham nuances estéticas com efeito de ordem artística.<br />
Um imbricamento entre os conceitos de moda e videoclipe<br />
deve dar conta do fato de que é a moda o principal responsável<br />
pelo caráter singular do artista da música pop.<br />
Sendo, com isso, o que ele veste, a principal “porta de<br />
acesso” ao universo ficcional que determinado artista pretende<br />
evocar.<br />
estamos adentrando ao âmbito da moda e seus<br />
significados, que têm em Ferdinand de Saussure e em<br />
roland Barthes, os principais teóricos do que se convencionou<br />
chamar semiologia da moda. aspectos como a denotação<br />
e a conotação podem ser um caminho um tanto<br />
quanto simples para perceber como a roupa que determinada<br />
pessoa veste numa trama ficcional está articulada<br />
à própria diegese narrativa. Dessa forma, é comum se<br />
analisar filmes, fotografias e vídeos através desta bipolaridade:<br />
percebendo se o jogo de significados da roupa<br />
compõe uma relação de denotação ou de conotação com<br />
a narrativa.<br />
Mas, este conceito parece não bastar quando estamos<br />
lidando com aspectos tão fluidos quanto os presentes<br />
no videoclipe. Por isso, como atesta Malcom Barnard, há<br />
duas explicações recorrentes para a origem ou geração de<br />
significado na roupa. A primeira localiza a origem deste<br />
significado fora da roupa, em alguma autoridade externa,<br />
como o estilista ou o usuário. a segunda vai localizar a<br />
geração deste significado na própria roupa, nas texturas,<br />
cores e formas e respectivas permutas. o que tentaremos<br />
perceber é como estas duas implicações de significados<br />
da roupa estão encenadas no videoclipe, podendo gerar<br />
uma relação mais denotativa ou conotativa do artista em<br />
determinado vídeo. estes conceitos oriundos da moda são<br />
basilares no entendimento também da dinâmica da música<br />
pop, que prevê uma constante mutabilidade e uma<br />
nova adequação a cada momento específico da carreira<br />
de um determinado artista.<br />
Situar o significado da roupa em alguma instância<br />
estática é tirar a dinâmica comunicacional da moda.<br />
Por isso, não podemos nos referir ao significado da roupa<br />
como sendo “do” estilista. enquanto signo arbitrário que<br />
é, a roupa abarca um conjunto de constituintes geradores<br />
de significados que não podem ser visto de maneira<br />
estanque. Dizer que o significado de uma roupa pertence<br />
ao estilista é arrancá-la de um cenário social, tirando-lhe<br />
de uma instância de encenação. a roupa, enquanto código<br />
cultural, encena algo, está em diálogo com quem a veste<br />
e onde ela atua. Mas, com isso, não estamos retirando<br />
a importância do estilista na geração de significados<br />
da peça. O estilista é a figura que empresta uma aura<br />
de descoberta sobre o significado de determinada roupa,<br />
sendo, com isso, fundamental para um diálogo com a mú-<br />
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