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Videoclipe: o elogio da desarmonia - Thiago soares 111<br />
o que interessa-nos, neste capítulo, é justamente<br />
a primeira definição trazida por Francis Vanoye: a de que<br />
a emoção é abordada como “reguladora da passagem à<br />
ação”. esta passagem a que o autor se trata, tem como<br />
força motriz a idéia de que “as imagens provocam processos<br />
emocionais incompletos”, como situa aumont. em<br />
sua natureza “aprisionadora”, a imagem acaba coisificando<br />
o processo: ela é a incompletude que é “preenchida”<br />
pelo observador – spectator, para utilizarmos um termo<br />
barthiano. a trajetória de uma imagem ao longo do tempo<br />
e do espaço, interpretada e sentida pelos diferentes<br />
receptores, não importando qual seja o objeto da representação<br />
(ou qual o vínculo que possa eventualmente<br />
existir entre o receptor e essa representação) será elaborada<br />
a partir de um complexo processo de construção<br />
e posterior “inserção” deste receptor (spectator) nas tramas<br />
imagéticas. É a realidade exterior de uma imagem<br />
(sua exterioridade maior, suas verdades explícitas) servindo<br />
de portal para uma realidade interior (suas histórias<br />
particulares, ficcionais, segredos implícitos). O que<br />
abordamos por realidade interior, parece-nos ser uma<br />
espécie de cenário, ponta de iceberg, para um processo<br />
sucessivo e interminável (tão interminável quanto forem<br />
os olhares lançados sobre aquela imagem) de criações<br />
sobre as imagens expostas. Um alimento para o imaginário<br />
que terá nas imagens de família, uma espécie<br />
de concentração da subjetividade e da afetividade (já<br />
presentes na imagem fotográfica), sendo portanto, um<br />
vasto campo de exploração pelos meios de comunicação<br />
de massa.<br />
Tendo constatado que a imagem é este terreno vasto<br />
de incorporação de afetividades e, portanto, um local<br />
de onde partem inúmeros processos cognitivos de criação<br />
precisamos, agora, refletir sobre uma categoria específica<br />
da imagem: a pessoal/familiar. aquela que, privada,<br />
tem um trânsito por vielas seguras, familiares, em circuito<br />
micro, não dialogando com o público. a imagem familiar<br />
é dotada, portanto, de uma espécie de certeza de que o<br />
que realmente importa é o registro como forma de eternizar<br />
e resgatar um acontecimento privado (familiar). De<br />
acordo com Miriam Moreira Leite, em Retratos de Família,<br />
são as ocasiões “lembráveis” que são também “fotografáveis”<br />
(casamentos, batizados, aniversários, festas). até<br />
porque, segundo a autora, “a memória da imagem não<br />
só difere da memória da palavra como chega, em alguns<br />
casos, a substituir a própria memória. algumas pessoas<br />
não se lembram do que aconteceu, mas da imagem do<br />
que aconteceu.” (LeiTe, 2000, p. 18).<br />
evocamos, então, a imagem como memória – não<br />
exclusivamente a memória de quem viveu efetivamente<br />
a situação do registro, mas uma memória afetiva que<br />
permeia a exterioridade destas imagens pessoais/familiares.<br />
e ao chegarmos às imagens pessoais/familiares,<br />
precisamos entender as marcas que fazem com que tais<br />
imagens sejam percebidas enquanto “imagens íntimas”<br />
ou privadas. as marcas das imagens pessoais/familiares<br />
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